Amor é a única saída

Quando esta coluna for publicada, terei lançado o meu sexto livro. Convidei muita gente, tenho hoje muitos amigos que Conquistei nesses 12 anos fora da prisão. Será uma festa

por Luiz Alberto Mendes em

Durante muitos anos de minha vida, ainda sob a ótica da prisão, reneguei todo tipo de festa e comemoração. Na prisão as pessoas nos procuram nas datas festivas mais como um desencargo de consciência. “Amigos” e até familiares lotam as filas de entrada de visitas nas prisões nessas datas; a maioria só vai aparecer novamente na mesma comemoração do ano seguinte. Os que estão conosco o ano todo, passam sufoco em longas e penosas filas nessas datas comemorativas.

Concordo com Heidegger quando ele diz que a vida só acontece plenamente à nossa consciência por meio das nossas frustrações, dos fracassos e das dificuldades que tais manifestações nos causam. Tenho encontrado sentido na vida em ultrapassar fracassos, frustrações e dificuldades que o fato de existir acarretou. Hoje, já indo para 12 anos longe das grades, começo a me soltar desses nós existenciais, relaxar e viver com certa tranquilidade. Celebro com meus amigos escritores o lançamento de seus novos livros, festejo novos encontros e comemoro algumas datas. Vou aprendendo que muitos são os prazeres do convívio e que não vale a pena arrastar ressentimentos de um passado que já vai distante.

A existência precisa fazer sentido para nós. Precisamos desse conforto porque ele nos dá, mesmo que de forma elíptica ou imprevista, fé na regularidade do mundo. Um passo levará a outro passo e é dessa maneira que a vida nos convida para festejar. E as festas são essas maneiras de nos confraternizarmos e celebrarmos essa confiança na vida, no mundo e nas pessoas.

Liberdade não traz, necessariamente, a felicidade. Às vezes aderir também é uma excelente escolha. A existência é algo que a vida nos dá. Um presente, às vezes uma condenação. Mas isso deixa de ter importância na medida em que o que devolvemos à vida é o que importa de fato. O que recebemos é passado e já passou, é óbvio. Nada pode estar em outro tempo que não no que está. O que damos é o agora, esse instante que não cessa na medida em que não paramos de dar. A solidão pode ser criativa, mas pode ser também uma árvore oca. Amigos, pessoas queridas, são como artesanato: feitos à mão com capricho.

EMOÇÃO E LÁGRIMAS

Quando esta coluna for publicada, terei lançado o meu sexto livro, no final de novembro. Convidei muita gente, tenho hoje muitos amigos. Conquistei-os nesses anos que estou fora da prisão. Será uma festa. Muitos aparecerão apenas para me cumprimentar e deixar o abraço, o carinho e a afirmação de amizade. Estou ansioso para abraçá-los e derramar todo meu reconhecimento pelos meus olhos que certamente estarão cheios de lágrimas. Lágrimas felizes e da mais intensa emoção. A vida tem sido muito boa para mim e prometo: vou me dedicar muito mais às pessoas e farei muito mais amigos. Eles são a riqueza, todo o tesouro que a existência poderia me oferecer.

Neste Natal, vou sim comemorar o nascimento daquele que nos ensina que todos os inimigos devem ser perdoados e que o amor é a única saída. Farei um voto sincero e profundo de acabar com todo rancor, toda malquerença, aceitar todas as diferenças e, de verdade, me esforçar muito em aceitar todos como irmãos. Não vou virar santo e nada que o valha. Quero continuar a ser o Luiz e me amar como sou, exatamente por quem sou, só que mais aplicado e atento às outras pessoas.

Vou fazer parte de uma festa que reunirá cerca de mil crianças para fazê-las felizes com presentes e muita atenção. Estarei presente desde a contribuição financeira, passando pela armação da festa, da decoração até todo o trabalho que isso tudo vai dar. Vou esbanjar carinho, quero dar minha alma, sentir que minha vida vale a pena, tem sentido e amar até não mais poder. Será um momento muito feliz, aquele que não se quer que acabe nunca mais. Serão festas e celebrações inesquecíveis, não vejo a hora!

Créditos

Flávia Junqueira

Arquivado em: Trip / Comportamento / Festa