Ocuppy a política

É preciso espalhar a ideia de que todos podem colaborar para a qualificação de nossas instituições. Eleição não pode ser sinônimo de roubalheira

por Alê Youssef em

Na edição de março deste ano, escrevi aqui que éramos controlados por uma elite velha, presa a hábitos ultrapassados e que as gerações que sucedem essa turma de anciões encastelados precisam tomar uma atitude agora. Pedindo sangue novo na política, conclamei aos brasileiros e brasileiras de 20, 30, 40 anos a se candidatarem para desafiar a casta que há tanto tempo confunde expectativa de vida com expectativa de poder.

Diante dos mais recentes acontecimentos da nação e do protagonismo que o horrendo Congresso Nacional tem e continua tendo, protegido pela função institucional, mesmo com centenas de parlamentares envolvidos em escândalos de corrupção, sinto a necessidade de voltar ao assunto, pois fica cada vez mais evidente que todos os nossos esforços no sentido de renovação política devem se concentrar em quebrar o condomínio de interesses nefastos nos quais se transformaram tanto a Câmara dos Deputados quanto o Senado Federal.

Há tempos que deixamos de nos preocupar com o voto no deputado ou na deputada e que a escolha para o Senado é automaticamente alinhada com nossas preferências majoritárias. Você que me lê aqui: lembra em quem votou na última eleição?

Participação ativa

A nossa sociedade civil, mídia e instituições em geral dedicam muito tempo e atenção ao presidente, a governadores e prefeitos, e esquecem o legislativo. Os poucos candidatos que bravamente se lançam para o Congresso propondo alternativas ao cenário político são tratados com desdém e nivelados ao resto. É raro essas boas figuras serem apoiadas de verdade pelos mesmos segmentos da sociedade que reclamam e lamentam a situação atual do país. Na prática, o que acontece é que, com a sensação de que a política partidária é tóxica, deixamos que os picaretas se perpetuem no estratégico poder legislativo.

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Para combater essa situação e buscar a renovação e a requalificação do Congresso Nacional, me juntei à Mídia Ninja para, em parceria, elaborar um programa para a web que funcione como um radar em busca de figuras que possam eventualmente se candidatar para o legislativo e que sejam novas, honestas e representem de verdade segmentos da nossa sociedade. Pretendo entrevistá-las e debater sobre a possibilidade da candidatura e falar abertamente sobre esse assunto geralmente tão evitado. Dessa forma, podemos não só estimular a candidatura do entrevistado, como também despertar o interesse nas pessoas que tenham acesso ao nosso conteúdo. Queremos mostrar que é possível se lançar e se eleger e que esse ambiente horroroso em que vivemos pode inclusive ajudar na conscientização social sobre a necessidade de mudança dos parlamentos.

É preciso naturalizar o ato democrático de participação ativa na política. É preciso espalhar a ideia de que todos podem colaborar para a qualificação de nossas instituições. Eleição não pode ser sinônimo de roubalheira e picaretagem e os calhordas não podem prevalecer diante dos bem-intencionados. Estou certo de que todos nós temos algum tipo de tarefa a cumprir para vencermos o desafio de tirarmos nosso Estado das mãos dessa gangue que não para de nos assaltar.

O nome desse novo programa é a sugestão que faço mais uma vez ao leitor e à leitora: Candidate-se!

Créditos

Imagem principal: Berna Reale/Número Repetido/2012

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