Por que gostamos de true crime?
Trip TV investiga os motivos pelos quais séries, podcasts e reportagens de crimes reais são tão viciantes
O sucesso de ficções criminais como Law & Order é indiscutível, mas de uns tempos para cá o true crime, gênero que expõe detalhes de assassinatos, atrocidades e finais nada felizes, vem apresentando um aumento significativo em sua popularidade nas plataformas de streaming de vídeos e podcasts.
As primeiras referências ao true crime surgiram na Grã-Bretanha, por volta de 1550, quando eram distribuídos pelas ruas centenas de panfletos sobre assassinatos e outros crimes. Mas foi o true crime americano moderno que expandiu o gênero como conhecemos hoje, com sua estreia na revista True Detective, lançada em 1924.
O auge desse gênero no impresso rolou na década de 50, quando vários autores começaram a publicar livros sobre crimes reais ou baseados em fatos reais. A partir daí, conforme apareciam novas mídias e plataformas, o gênero foi se difundindo. Passou por programas de rádio, de televisão, documentários e etc., até chegar nos streamings.
No Brasil o true crime chegou através do rádio na década de 70, quando programas sensacionalistas relatavam casos de crimes reais para ganhar mais ouvintes. Os programas policiais na televisão aberta surgiram no Brasil na década de 1990. Como o Aqui Agora, do SBT, e o Linha Direta, da Rede Globo, entre outros de perfil mais jornalístico, que foram inspirados em programas policiais dos Estados Unidos.
Mas por que gostamos de true crime? O que nos causa interesse em histórias reais de violência?
Para psicólogos e psiquiatras especializados no tema, existem alguns fatores que fazem a gente gostar de histórias sobre crimes que aconteceram na vida real. Um deles é que o sensacionalismo da mídia transforma esses serial killers e outros criminosos em celebridades, o que gera interesse da população. "O grande criminoso é aquele que faz o que, de alguma forma, no nosso íntimo, a gente também deseja fazer, ou seja, fazer o que quer sem ligar para a lei, para ninguém. No fundo ele é um grande egoísta", explica o psicólogo Daniel Kupermann.
Outro fator tem a ver com a natureza humana. Somos curiosos e quereremos ver o desenrolar das histórias. Solucionar enigmas é uma atividade que traz uma sensação de recompensa para o nosso cérebro.
De uma perspectiva mais filosófica, esse interesse por crimes reais pode estar relacionado aos espetáculos de punição. Assim como antigamente as pessoas se reuniam em praças públicas para ver o enforcamento dos que infringiam a lei, atualmente assistimos a perseguições ou a reconstruções de crimes esperando o momento da punição. "Existe um termo em alemão para isso - Schadenfreude -, que é a alegria com a desgraça alheia. Existe essa alegria velada que está ligada ao fato de que aconteceu com o outro e não foi comigo. Ela tem uma dimensão de reasseguramento", diz Kupermann.
Outro fator que nos ajuda a entender porque gostamos de true crime é fisiológico. A sensação que sentimos quando assistimos ou escutamos sobre crimes reais se compara com a sensação que sentimos quando estamos apaixonados. Os mesmos hormônios são liberados: adrenalina, endorfina, dopamina, serotonina.
Tanto a excitação causada por se apaixonar quanto a causada por assistir cenas horripilantes ativam o mesmo lugar no nosso cérebro: o sistema nervoso simpático, que ativa mudanças no ritmo cardíaco e pulmonar, liberando hormônios como a adrenalina que afetam o sistema digestivo. Então, quando consumimos true crime, podemos sentir aquele friozinho na barriga igual quando encontramos o crush.
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