Somos todas, todos e todes
No Dia Internacional Contra a Homofobia, a cantora e compositora Zélia Duncan faz uma reflexão sobre (in)tolerância e a incapacidade de aceitar o outro do jeito que é
FOBIA- Sentimento exagerado de medo ou aversão. Psicopatologia. Sensação patológica de angústia intensa e persistente. Eis a definição num dicionário.
Nada aqui indica que seja bom alimentar uma fobia. Se o sujeito tem medo de altura, de barata, de cebola, de chihuahua, de ambiente fechado, há sempre uma legião que ou ridiculariza, ou fica tentando tirar aquela alma do evidente sofrimento. Viver com medo, já vivemos. O medo de sofrer, de ser diferente, de ser fraco, de ser pouco, de ser oco, quando não é superado, gera fobias mais graves.
A desgraça que acompanha a homofobia é alimentada e se traduz em atrocidades sistemáticas. Mas se a pessoa que vê um homossexual e sente a tal "angústia intensa e persistente", não deveria ela pedir ajuda, se tratar, amansar a alma e perguntar a si mesma, o que tanto a incomoda? Não adoto o discurso de que toda pessoa é gay. Não é tão simples assim. As pessoas são universos tão complexos e sabemos, hoje, que há tanto mais dentro de nós, do que apenas homens e mulheres de quem se exige uma definição. Somos todas, todos e todes. E a homofobia faminta por apontar, ofender, assassinar, abrange qualquer definição que apareça, que não esteja enquadrada no que eles acham que entendem e dominam, sobre o ser humano. As novas famílias são ignoradas, como se não fossem fontes de amor e proteção.
A homofobia é um sentimento miserável, um preconceito antigo e patético, que insiste em negar o óbvio, em apontar o invisível, em extinguir o que é parte do mundo desde sempre e para sempre será. Tem muita gente morrendo por conta disso e mais um monte que alimenta a tragédia.
Se você sente fobia ao ver um gay, eu sinto muito por você. Sua fobia se traduz em ódio e viver em função do ódio deve ser exaustivo. Quanto a nós, temos uma vida especialmente dura, sim. Mas temos as cores do arco-íris, temos orgulho, estamos livres do ódio e lutamos pelo direito de amar. Não lhe parece bem mais atraente? Nada de ficar com inveja, hein!? Temos fobia de gente invejosa!
*Zélia Duncan é cantora, compositora e foi uma das atrações musicais do Prêmio Trip Transformadores 2017, evento que o Banco do Brasil patrocina.
Créditos
Imagem principal: Roberto Setton© | Divulgação