Por que a maioria dos médicos ignora a nutrição?

Como a falta de conhecimento sobre alimentação pode estar nos matando? Dr. José Souto responde

por Redação em

No início dos anos 2000, a dieta com baixo consumo de carboidratos alcançou um sucesso estrondoso. Com o passar dos anos, no entanto, o hábito começou a enfrentar críticas e questionamentos quanto aos seus possíveis efeitos colaterais. “O fato da medicina não valorizar o estilo de vida é de natureza histórica e a nutrição ruim está na base da maioria das doenças crônicas e degenerativas”, diz o Dr. José Carlos Souto, que dedicou os últimos 12 anos de sua carreira ao estudo dos benefícios de uma dieta pobre em carboidratos. 

Autor do livro "Uma dieta além da moda: uma abordagem científica para a perda de peso e a manutenção da saúde," lançado em setembro deste ano, ele assegura que uma dieta pobre em carboidratos é uma das melhores opções para combater a síndrome metabólica. Essa condição está associada à hipertensão arterial, níveis elevados de açúcar no sangue, acúmulo de gordura abdominal e desequilíbrios no colesterol.  “Se você está com pressão alta, diabetes ou gordura no fígado, você vai receber algum remédio. Isso é importante, mas é preciso saber que se você reduzir o açúcar, o amido e substituir por carnes, legumes, ovos, pode reverter boa parte dessa situação". 

Em um papo com o Trip FM, ele falou ainda sobre a febre do medicamento Ozempic, a eficácia real do exercício físico na perda de peso e a preferência da indústria médica pelo uso de medicamentos em detrimento das mudanças no estilo de vida. 

Trip FM. Por que você acha que a nutrição está em segundo plano no estudo da medicina?

O fato da medicina não valorizar o estilo de vida é de natureza histórica, tem a ver com o sucesso da ciência na introdução de estudos clínicos para testes de drogas. Isso aliado com a evolução das cirurgias e das ferramentas cirúrgicas, da descoberta dos antibióticos, acabou eclipsando o estilo de vida. É curioso porque a nutrição ruim está na base da maioria das doenças crônicas e degenerativas, as principais que enfrentamos depois de uma certa idade. Nos congressos médicos onde acontece a atualização dos profissionais, o patrocinador é a indústria farmacêutica e de equipamentos médicos. Felizmente essa indústria existe. Mas o estilo de vida não é a grande novidade, ele não é sexy e não tem o patrocínio que vai colocá-lo em destaque. No consultório, quando chega na parte de falar sobre o estilo de vida, a resposta é de senso comum, o que dificilmente vai reverter problemas já instalados em grande parte da população, como sobrepeso, obesidade e as doenças metabólicas, como diabetes, pressão alta e gordura no fígado.

Você tem recebido muitas críticas por defender a dieta com baixo consumo de carboidratos?

O que estou propondo tem evidência científica robusta, o que já rebate boa parte das críticas. Não quero confrontar, quero propor algo que seja incorporado à prática dos colegas. Se você está com pressão alta, diabetes, acumulo de gordura na região da barriga, colesterol bom baixo, gordura no fígado… Você vai receber algum remédio, o que é importante, mas é preciso saber que se você pode reduzir o açúcar, o amido e substituir por carne, peixe, frango, salada, legumes, ovos, pode reverter boa parte dessas coisas. Isso é baseado em evidência, não é alternativa, precisa ser uma opção para que o paciente possa optar por esse caminho.

E quanto o prazer de comer um pouco a mais, como fazemos em relação a ele?

É importante que as pessoas não se prendam no mindset da perfeição. A vida se atravessa, há celebrações e festas, mas o deslize não é um pecado que precisa ser punido. É natural não esperar a perfeição e portanto quando o planejamento não dá certo, você retoma no dia seguinte e segue adiante. Essa é a vida.

 

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