O Gringo que melhor entendeu o Brasil

De Xuxa a Tom Jobim, o multiartista Gringo Cardia já trabalhou com grandes personalidades, mas o que ele quer mesmo é traduzir para todos o que enxerga do mundo, da natureza e das pessoas

por Redação em

De Xuxa a Tom Jobim, de Cássia Eller a Pedro Cardoso, o multiartista Gringo Cardia já trabalhou com uma vasta gama de personalidades, seja como designer, cenógrafo ou diretor. Responsável por alguns dos videoclipes e capas de discos mais impactantes da história nacional, como o icônico "O Segundo Sol", de Cássia Eller, Gringo encontrou um espaço em sua concorrida agenda para bater um papo com o Trip FM. “Nunca acreditei na arte para poucos. O papel do artista é falar com todos, e não com uma turma de intelectuais. Tudo já está criado na natureza, nas pessoas, nas ruas, mas para ser um artista visual você precisa saber ver. Meu papel é de observador, de tradutor, quase como um psicólogo visual”, reflete.

Na conversa com Paulo Lima, ele falou sobre a potência da cultura popular, o conceito de fracasso, a importância da educação e as dificuldades de administrar a Spetaculo, uma escola de arte e tecnologia para jovens da periferia do Rio de Janeiro.

Ellie Kurttz

Trip FM. Gringo é um apelido, baseado na sua aparência física, mas tem também aí um atributo, não tem? A questão do olhar de fora, daquele que enxerga o que os outros não estão vendo?

Gringo Cardia. Mais do que ser artista, o meu trabalho é de observador. Tudo já está criado na natureza, no mundo, nas pessoas, nas ruas, no pipoqueiro, mas para ser um artista visual você precisa saber ver. Meu papel é ser um tradutor. Já trabalhei de Tom Jobim a Xuxa porque sempre tive muita curiosidade. Eu acho que a gente precisa valorizar as pessoas e não ter preconceito. O Brasil é do cult ao popular. Tudo que tem público é porque tem sinergia com a alma do povo. Meu trabalho é quase de um psicólogo visual, de mostrar as pessoas para o mundo.

Qual o segredo de juntar o elegante como o popular? O principal é ter respeito pelas pessoas. Ver um trabalho de arte popular e olhar como se estivesse no Moma e não porque é moda, mas é preciso entender que aquilo tem valor. Nunca acreditei na arte para poucos. O papel do artista é falar com as pessoas, e não com a turma de intelectuais. Esse pessoal é importante para fazer a nossa cabeça na escola, mas é uma bolha. Conhecimento é não perder o olhar de criança, quando você fica com o olhar de adulto já está velho.

A arte tem o papel de educar? A geração que nasceu depois da explosão da computação, nasceu com a noção de que a imagem fala tudo, mas a imagem não fala tudo. A imagem atrai os olhos para depois você pensar. O olhar bate, vai no coração, e depois chega na cabeça. Tudo o que eu aprendi para sensibilizar as pessoas através da arte, eu descobri, tem que servir ao conhecimento e de uma maneira que seja construtiva para o mundo. Tudo é para educar.

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Imagem principal: Ellie Kurttz

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