Fabrício Carpinejar: Felicidade é pausa entre tristezas
Gaúcho de Caxias do Sul e uma das referências culturais deste país, o poeta explica a razão dos óculos amarelos, sua marca registrada, e fala sobre dinheiro, igualdade e morte
Gaúcho de Caxias do Sul, filho de escritores e uma das referências culturais deste país, o poeta Fabrício Carpinejar, apenas em 2021, adicionou três lançamentos a uma lista que agora tem 48 livros publicados. A produção acelerada não é novidade – o que mudou foram os temas. Acostumado a tratar de relacionamentos, ele foi empurrado pela pandemia a enfrentar, como muitos de nós, a ideia da morte. "A felicidade é uma trégua entre duas tristezas. Se você força a permanência da felicidade, você já está ficando triste", conta.
Carpinejar se formou em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente, é colunista dos jornais Zero Hora e O Tempo, além de ser comentarista do programa Encontro com Fátima Bernardes, da Rede Globo. Na televisão, também comandou entre 2012 e 2016 o talkshow A Máquina, na TV Gazeta, e, no teatro, apresenta o stand-up O Amor não é para os Fracos.
Na conversa com o Trip FM, o cronista ainda explicou a razão dos óculos amarelos, sua marca registrada, falou sobre dinheiro, igualdade de gênero e defendeu a escrita como uma forma de cura.
Trip. Eu sei que para alguns motoristas, por exemplo, os óculos de lente amarela ajudam com os reflexos. Os seus são funcionais ou apenas um adereço que você gosta de usar?
Fabrício Carpinejar. Tem essa parada de ajudar nos reflexos, mas tem uma parada de funcionar como uma compensação. Eu não tenho sobrancelhas; é um tracinho, esqueceram de colocar. Quem não tem sobrancelhas não é confiável, ela é o marcador de página do rosto. O que eu fiz? Promovi meus óculos a sobrancelha.
Entre outras coisas, nesse período em que a gente ficou sem se falar, você fez um curso de cura pela escrita. Qual era a intenção disso? O meu papel era trazer essa chama de volta, a faísca da democratização da escrita, da escrita como extensão terapêutica, fora do reduto intelectual. Existe uma elitização da escrita: parece que só o escritor deve usá-la. Escrever à mão é uma forma de se conectar profundamente consigo. É uma forma de combater a ansiedade, de revisar os seus pensamentos antes de tomar uma decisão. Todo mundo deveria ter um diário.
Você já me falou que pega mal ser culto nesse país. A impressão é que isso piorou com esse governo. Houve uma legitimação da estupidez? Você sente essa piora? Pioramos. Hoje você xinga para depois conhecer. Há um entendimento de que o intelectual é um vadio; um mendigo no semáforo da Lei Rouanet. Há uma crença de que o intelectual vai enriquecer com o dinheiro público. Eu vejo o estado lamentável das nossas bibliotecas, elas têm uma defasagem de vinte anos para receber um livro. A cultura dá a cidade para o leitor. A vida cultural é também um acesso a vida política.
Créditos
Imagem principal: Vicente Carpinejar