Eriberto Leão: Quero ser um instrumento de evolução
Estudioso da contracultura, o ator deixa a TV Globo, toma as rédeas da sua história e fala sobre Jim Morrison, corpo, Deus e extraterrestres
Mesmo sendo um ator de mão cheia, é difícil manter o papo com Eriberto Leão preso ao âmbito das artes cênicas. Um estudioso da contracultura e, em suas palavras, perseguidor dos sentidos da vida, Eriberto teve a sua existência alterada quando conheceu mais a fundo a banda The Doors e passou a ler os livros tão caros ao vocalista do grupo, Jim Morrison.
Onipresente em todas as formas da atuação nos últimos meses – fez a novela “Além da Ilusão”, a série “Ilha de Ferro” e estreou a peça “O Astronauta”, além de estar nos cinemas com dois longas-metragens – ele agora se prepara para entrar em uma nova fase: “Estou terminando um relacionamento de 19 anos com a Globo, chegou a hora de ser protagonista da minha própria vida.”
Em um papo profundo com o Trip FM, o artista falou de envelhecimento, Deus, vida fora da terra, corpo e muito mais. Confira no play aqui em cima, no Spotify ou leia um trecho abaixo.
Trip. Uma ferramenta de autoconhecimento potente é o corpo, algo que muita gente passa a vida sem explorar. Como alguém que depende disso para o trabalho, qual é a sua relação com o físico?
Eriberto Leão. As artes cênicas nos trazem uma necessidade de conhecimento do corpo. Você não pode estar em cena sem se comportar fisicamente como uma personagem. É preciso primeiro se conhecer, zerar a sua expressão corporal, para então poder dar vida a uma história. Aí você vê como a personalidade influencia o corpo e como o corpo influencia a personalidade. Imaginem então se todos nós nos compreendêssemos em nosso templo?
Eu sei que você já fez alguns sacrifícios em nome da atuação, como enfrentar touro em arena sem dublê. Até onde você já foi em nome da arte? Os melhores atores da minha geração consideram esse trabalho sagrado. Eles sabem de onde vem a nossa arte. Mas o sacrifício também vai amadurecendo durante o tempo. Minha primeira peça eu precisava bater o joelho forte no chão. Poderia ter feito de forma cênica, mas não fiz e hoje tenho que ficar de olho nele o tempo inteiro. Quando te prejudica de alguma maneira, já acho que não é necessário, mas se não vai prejudicar e fazer você estar dentro do personagem, acho válido. Às vezes preciso fazer de verdade para fazer bem, mas talvez hoje aos 50 anos, por exemplo, eu não enfrentaria o touro que enfrentei em "Paraíso".
Você acabou de passar por uma idade, os 49 anos, muito importante para a teoria dos setênios. Sentiu alguma mudança? Se a gente pudesse optar, escolheríamos que a mente continuasse o amadurecimento enquanto o corpo permanece jovem. Mas isso não é possível e eu, realmente, não voltaria atrás, porque a maturidade da experiência não tem preço. Eu me sinto hoje tomando as rédeas da minha vida. Termino em um mês um relacionamento de 19 anos com a Globo. Chegou a hora de ser protagonista da minha própria história. Estou me sentindo muito bem principalmente porque tenho muita gratidão pela minha trajetória. Eu gosto muito de uma frase que diz que nós não estamos em evolução, nós somos a evolução. Espero que eu possa ser um instrumento – através da minha arte – dessa evolução que é inexorável ao universo. O Big Bang explodiu e está expandindo, nós temos que expandir juntos; nós somos um com ele.
Créditos
Imagem principal: Andrea Nestrea