Você sai de São Paulo, mas São Paulo não sai de você!

Confissões de uma workaholic vivendo em uma cidade onde "todo mundo" trabalha pouco

por Nina Lemos em

Nos meus últimos anos em São Paulo, a coisa que eu mais odiava no mundo (depois do engarrafamento, o ar etc) era quando alguém falava as seguintes frases, sempre com ares de orgulho, do tipo, “eu sou importante para o mundo” . Como se a pessoa em questão fosse, sei lá, o Obama e não, por exemplo, um designer gráfico de uma agência de publicidade.

Estou trabalhando muito.”

“Eu não tenho tempo para nada.”

Isso me irritava tanto que a minha vontade era responder.: “Nossa, que pena de você, que vida uó”.“Trabalha muito? Nossa, que coisa triste, quer desabafar?” Mas não fiz porque perderia amizades. Esse é o jeito de ser de 90% dos paulistanos e era o meu também de se achar FODÃO.

Aqui estou eu, em Berlim, cidade onde nem tem hora do rush, onde ninguém corre na rua com cara de louco, algumas lojas só abrem de vez em quando, as pessoas realmente vivem a vida, falando sem parar que: …

-Estou trabalhando muito.

-Eu não tenho tempo para nada.

As vezes sou ainda mais sofisticada na minha reclamaçãoao e falo: “sim, eu sei que eu tenho que entrar na academia, mas eu não tenho tempo.”Paulistana!

Não tenho tempo para almoçar com amigos, ver o sol no meio da tarde ou sair durante a semana. Paulistana!

Sou uma workaholic na terra onde as pessoas acham que trabalhar muito é ridículo e levam ao pé da letra a minha frase, sim, minha: trabalhar muito é cafona.

Mas acontece que você sai de São Paulo, mas São Paulo não sai de você.

Com dois trabalhos fixos mais uns freelas, me econtro na seguinte situação: Pulo da cama nove da manhã e trabalho, duas vou para a aula de alemão (como um sanduiche no caminho, paulistana!), saio cinco e meia, volto para casa e… trabalho. As vezes dou turno de 10 horas. E, claro, eu ainda tenho os meus projetos, como toda paulistana!

Outro dia tive uma idéia incrível durante o banho na casa do bofe. Como era incrivel mesmo, quando voltei para casa liguei para minha parceira no projeto domingo de tarde. Paulistana! Ela, paulistana, mãe de uma filha de dois anos e grávida de oito meses, atendeu de uma festa infantil: “tive um plano, tive um plano”. Ela, claro, não aguentou de curiosidade e foi para um canto da festinha falar comigo sobre trabalho no domingo. Repito. No domingo. No meio de uma festa infantile!

A Alemanha é um pais com sindicatos fortes. Nada, nada mesmo abre no domingo. Shopping domingo? Cê tá louca? Pois eu e minha amiga trabalhamos no domingo.

Corro de um lado para o outro reclamando que não tenho tempo de pintar o cabelo, cortar o cabelo, ir ao supermecado. Até que a comida acaba e eu dou um jeito de ir. Essa semana andei tão, mas tão paulistana que quase pensei em pedir um delivery (do Ritz?) e pagar uma fortuna.

Voce sai de Sao Paulo. Mas Sao Paulo não sai de você. Quem sabe um dia… Ah, e eu, que dizia por aí que trabalhar muito é cafona ,sou considerada workhollic grau mil pelo meu namorado e conhecidos alemães. Eles estão certos. E eu ainda acho que isso é cafona. Mas eu…. Eu não consigo! Falando nisso tive uma idéia de um projeto que…

PS. Eu não estou reclamando de muito trabalho não, ta? Podem pedir mais! Sempre. Eu vou aceitar!  Como diz o meu irmão Xico Sá, a sombra da pobreza sempre te persegue.

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