Viva a anarquia!

por Redação em

No sangue da família corre arte. Ricardo e Viktor são diretores requisitados da TV brasileira, Tatiana dirige cinema na França, e Andrucha Waddington, irmão dos três primeiros, é um dos cabeças da enorme Conspiração Filmes e faz grandes produções do cinema e da publicidade nacionais. Em seu último filme, o documentário Pedrinha de Aruanda, que estréia nesta sexta-feira, dia 14, nas salas brasileiras, o diretor filmou Maria Bethânia em seu habitat natural, Santo Amaro da Purificação, cercada de sua família, que, apesar de famosa, não costuma aparecer junta e em momentos íntimos. A idéia, a princípio, era filmar o show de 60 anos de Bethânia. Mas, sem planejamento, roteiro, ou pretensão, o documentário se tornou um retrato da família, com flagras de dona Canô, no auge dos seus 100 anos, e de Caetano Veloso, o irmão pop, cantando e compartilhando histórias. A seguir, Andrucha fala sobre o filme e sobre seu recente projeto, Retrato Celular, “um auto-reality show para a TV”, como ele gosta de chamar.

Por Fernanda Paola e Endrigo Chiri

Tpm. Por que a escolha de documentar Maria Bethânia, em Pedrinha de Aruanda?

Andrucha Waddington. Maria Bethânia estava prestes a completar 60 anos e me convidou para documentar a ocasião na Bahia. Me deparei com a possibilidade de fazer um registro profundo e singelo de suas raízes. Assim que cheguei a Salvador, combinei com Bethânia de não fazer perguntas e me deixar levar por ela. Bethânia seria a roteirista de Pedrinha de Aruanda, um projeto que começou como uma filmagem de aniversário e acabou virando um retrato delicado de uma família extremamente brasileira. Este documentário foi acontecendo aos poucos, sem roteiro, sem ambição, sem planejamento. Fomos guiados por Bethânia.

Tpm. Inevitavelmente, a dona Canô rouba a atenção no filme. Como foi conviver com ela?

O filme se tornou uma grande homenagem a Dona Canô, uma pessoa única, uma grande matriarca, uma grande mulher, uma grande amiga de seus familiares, um exemplo de delicadeza e de vida.

Tpm. Você já dirigiu o Luiz Melodia e Seu Jorge no longa Casa de Areia, e agora a Bethânia. Como é dirigir cantores?

São dois trabalhos absolutamente diferentes. Em Casa de Areia, por se tratar de uma obra de ficção, realmente posso dizer que tive o prazer de dirigir Luiz Melodia e Seu Jorge. No caso de Pedrinha de Aruanda, por se tratar de um documentário, fui dirigido por Maria Bethânia.

Tpm. Conte um pouco sobre o projeto Retrato Celular. Como funciona, qual a intenção, como surgiu a idéia?

Retrato Celular surgiu de uma encomenda do canal Multishow, que queria uma série que retratasse o jovem brasileiro. Luiz Noronha, meu sócio e produtor da Conspiração Filmes, teve a brilhante idéia de distribuir celulares para que jovens filmassem suas próprias vidas sem a presença de uma equipe. Fizemos um piloto que comoveu a todos e a partir deste momento entramos em produção. A interferência da direção no projeto, que divido com Paulo de Barros, Mônica Almeida e Patrícia Guimarães, ocorreu através de uma grande pesquisa para selecionar os 34 protagonistas da primeira temporada, agrupá-los por temas, entrevistá-los após o término das filmagens de cada protagonista em tom confessional e organizar as 180 horas de material por meio da montagem. Nasceu desta experiência o auto-reality show para a TV.

Tpm. Você acredita nesse novo jeito de fazer documentário? E acha que, pela facilidade de execução, tem chance de popularizar a produção de vídeos e ajudar no descobrimento de novas linguagens?

Não é uma questão de acreditar ou não, a popularização da tecnologia já está invadindo o mundo e as mídias, com novas linguagens. Viva a Anarquia!

Tpm. Mas, por outro lado, não acha que pode banalizar a produção de audiovisual e acabar sendo contra-producente?

A produção audiovisual de ponta vai continuar a existir sempre, assim como a produção caseira. Uma alimenta a outra.

Tpm. Com o avanço tecnológico, surgiu uma nova onda de interatividade nas mídias, dos próprios espectadores gerarem conteúdo para revistas, sites, jornais e por aí vai, mesmo sem preparo técnico ou intelectual. E essa tendência está chegando no cinema. Essa idéia te preocupa?

Eu sou despreparado intelectualmente, não fiz escola de cinema ou qualquer faculdade e me considero no direito de filmar, seja como for e o que for. Não tenho medo de mudanças ou novidades. Que venham novas tendências para o cinema e para o mundo. O público vai sempre escolher o que quer ver, portanto não há motivo algum para preocupação.

Tpm. A Conspiração é enorme hoje. Quem toca o negócio e como tudo começou?

É uma longa história, a Conspiração foi fundada em 1991 por quatro sócios: Lula Buarque, Claudio Torres, Arthur Fontes e José Henrique Fonseca com o sonho de fazer cinema num momento onde o cinema havia praticamente acabado no Brasil. Hoje somos 16 sócios, sendo 11 diretores, 4 produtores e o banco Icatu, parceiro maravilhoso que nos ajudou muito a virar gente grande. A Conspiração é grande porque somos muitos, com regras muito bem estabelecidas e uma colaboração espontânea no dia-a-dia que faz a gente querer ficar juntos por mais pelo menos 100 anos. Somos operários do audiovisual.

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