Vinte anos sem Renato Russo (e ele nunca esteve tão presente)
Renato Manfredini Jr, morto há 20 anos, nunca fez tanta falta. É hora de ouvir Legião Urbana, cantar alto que "compaixão é fortaleza"e ouvir o que Renato ainda tem para dizer
Se Renato Russo estivesse vivo, ele estaria puto. Em seus shows, leria manchetes de jornal. Falaria que tinha vontade de ir embora. E repetiria, como fez na década de 90, antes de “Pais e Filhos”, que de vez em quando a gente tem vontade de sumir. Mas "que a gente sempre pode tentar a vida em outro lugar. E que a gente sempre pode ser feliz".
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Renato Russo, morto há 20 anos, nunca fez tanta falta. E nunca esteve tão presente. Não, não é por causa de Que país é esse, música que Renato compôs ainda menino, no tempo do Aborto Elétrico, e que tem sido usada em todo tipo de manifestação de pato, amarela, em vinheta da Globo. Renato, eles estão fazendo um estrago com Que país é esse, sabia? Mas, estrago mesmo estão fazendo com o país. E Renato Russo repetiria que todos os índios foram mortos, mortos, mortos.
Nunca fez tanta falta um show da Legião. E sei do que falo porque tive em uma meia dúzia, adolescenta fanática por ele que fui. Seria ótimo gritar a plenos pulmões: “Dissestes que se tua voz tivesse força igual a imensa dor que sentes, teu grito acordaria não só a sua casa, mas a vizinhança inteira. E há tempos.. nem os santos... e há tempos são os jovens que adoecem.” A última vez que cantei essa foi em um karaokê com o Tatá Aeroplano. A casa quase caiu. Estávamos todos, nem tão jovens, cantando Legião.
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É hora de cantar Legião. Nunca foi tão atual o verso: “vamos sair, mas não temos mais dinheiro, os meus amigos todos estão procurando emprego.” Ainda mais para quem é jornalista, Renato. A gente se ferrou. Talvez Renato dissesse que escuridão já viu pior, que é claro, óbvio, que o sol vai voltar.
No meio da crise mundial de tudo, é preciso ver os vídeos antigos do Renato. Eles nunca foram tão atuais. Renato, que sempre foi místico, astrólogo e jogador de i-ching, parece fazer profecias. “Tem nazista em tanto o quanto é lugar do Brasil, mas em São Paulo, sabe, de repente tem essas galerinhas de carecas, esses babaquinhas. Um bando de bicha enrustida, diga-se de passagem. Homem que é homem não precisa dar porrada em ninguém. Aqueles playboys, sabe, que fica tipo dez, coçando o saco e falam de toda menina que passa. São sexistas, são intolerantes, são idiotas. O problema é que são idiotas com ideologia. O importante é informação. A base do fascismo, da intolerância e do preconceito é a falta de informação... tem gente aqui no Brasil que está com esse papo: “ah, os militares tem que voltar! Imagina! Será que esse povo esqueceu? Será que nós esquecemos como é ruim não ter liberdade. É fascista sendo eleito na Inglaterra. É fascista sendo eleito na América Latina. Isso é muito complicado.” Esse vídeo viralizou ano passado. Renato falou isso há mais de 20 anos.
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Sim, Renato, o mundo anda tão complicado... Tão complicado que muita gente está pensando em sair do país. Mas você já sabia disso, também. “Ás vezes faço planos, às vezes quero ir para um país distante voltar a ser feliz”. Ele escreveu essa música em 1985. Mudaram as estações e nada mudou? Não sei, Renato.
Mas faz 20 anos hoje: dia 11 de outubro de 2016. E você nunca esteve tão presente e necessário. É tempo de ouvir o Renato. "Ouça no volume máximo."