Very shanti

Madammmmmm, you have to do it verrrry shanti

por Elka Andrello em

Começou com uma reclamação.

- “ Quero um desconto porque as outras estrelas que eu comprei desgrudaram e eu tive de colar tudo de novo”

 E o figura olha para mim com a maior calma (ou cara de pau, ainda não entendi muito bem qual é desses indianos).

- “Madammmmm, you have to do it verrrry shanti”.
 
Foi o suficiente para me desarmar! Ele podia ter falado slowly, easy, whatever, mas shanti foi a coisa mais fofa que eu poderia ter ouvido. Para quem não sabe, shanti é paz em hindi. E o indiano, que a essa altura já tinha virado meu amigo, me mostrou como eu tinha que mudar a minha atitude com as estrelas. Bom, deixa eu explicar. Eu me apaixonei por umas estrelas que são luminárias de papel com umas ilustrações bem bonitas. É quase hippy, mas eu acho bonito e sempre que vou para Macleod Ganji não resisto e compro mais uma. Perguntei para o meu “super amigo” Hilal quem fazia as estrelas.

 


- “Madammmm, eu criei as estrelas para fazerem companhia para o sol e a lua porque o céu precisa ser completo”. 

- “Hãaaaaa? Como assim? Tem luminária de sol e lua? Cadê o sol?”

 

- “Primeiro eu criei o sol. Estava passando inverno na Escandinávia, sabe que lá no inverno é sempre noite, e num passeio pela floresta esse sol apareceu no meio das árvores.  Achei tão lindo que criei um tapete de sol. Faz 13 anos que vendo tapetes com esse desenho e todo ano mudo um pouco as cores porque a luz não pode ser sempre igual.”

 


Ou ele estava falando sério ou eu acredito em tudo que me contam.

- “A lua é bordada em tecidos menores e criei as estrelas de papel porque o sol precisa da lua e das estrelas. Exporto para vários países. Patenteei a idéia mas tem um monte de gente que copia, até os chineses, você sabe, tem muita competição entre China e Índia. Como aqui na Índia não existe lei para proteger a criação do artista, não recebo royalties. Todo esse trabalho é feito pela minha família que vem de Srinagar, na Caxemira. Sou da terceira geração de artistas, minha avó faz pachiminas.

- “Nossa, que legal. E você vai ensinar como fazer o céu para os seus filhos?”

- “Não, madddammmmm , eu vou mandar eles para a faculdade para estudar comércio exterior. Quero que eles tenham educação, vida de artista é muito difícil.”

- “Entendi. E quanto você vai me dar de desconto pela estrela?”

 

Não sei se foi ter passado a manhã com o Karmapa em uma audiência privada, a tarde do lado do Dalai Lama ouvindo a voz dele no microfone dando ensinamentos, ou efeito colateral do remédio de alergia, mas acho que a Índia tá batendo. Shaaaaannnntiiiiii para vocês também.

 

Hilal Groora tem 28 anos e ganha a vida explorando o céu. Se você gostou do trabalho dele, escreva para sfe786@hotmail.com.

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