Velhinhos suicidas

O último livro do escritor e filósofo austríaco André Gorz, Carta a D. - História de um amor, é a verdadeira pérola do amor eterno

por Redação em

 
Foi por amor que depois de quase 60 anos de casamento, o escritor e filósofo austríaco, radicado na França, André Gorz, resolveu aplicar uma injeção letal em si próprio e em Dorine, sua esposa, que descobriu-se portadora de uma doença degenerativa, a aracnoidite. E foi também por amor que André escreveu seu último livro, Carta a D., um elogio a um sentimento tão pouco comum em tempos de amores com prazo de validade. O casal foi encontrado dois dias depois do suicídio, em sua casa, abraçados na cama. E o calhamaço, escrito dois anos antes, entre os papéis do escritor. Apesar de trágico, o suicídio é bem positivo. No sentido de que André, aos 84 anos, simplesmente não queria começar uma nova vida sem Dorine. “Você é o essencial sem o qual todo o resto, importante apenas porque você existe, perderá o sentido e a importância”, ele escreve.

Mais do que um livro, literalmente, de amor, Carta a D. é um manuscrito de como eles escolheram viver a vida. De como Dorine escolheu, depois de quase 30 anos de sofrimento, “..assumir o controle do seu corpo, da sua doença, da sua saúde; tomar o poder sobre a sua vida em vez de deixar a tecnociência médica tomar o poder sobre a sua relação com seu corpo e consigo mesma” Dorine começou a fazer aulas de yoga e, como explica André, “Tomava posse de si administrando suas dores por meio das antigas técnicas de autodisciplina.”

Um detalhe: se estiver sofrendo de amor, ou quem sabe, com um namorado morando em outro país, prepare-se pra desmanchar-se em lágrimas. O trecho que você lerá a seguir, que abre o livro, é de deixar em frangalhos qualquer coração mais sensível: “Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinqüenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher.” Quer um lencinho?
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