Vale tudo
Cássia Kiss só tem 52 anos. E isso não é ironia. Quatro filhos, três casamentos, mais de 20 novelas, bulimia, bipolaridade, o assassinato de Odete Roithman. Ainda tem fôlego? Então vire a página e tome um tiro desta mulher que saiu de um cortiço para se tornar um dos maiores nomes da TV brasileira
Pergunte para o seu namorado. Um dos primeiros peitos não maternos que ele viu na vida pode ter sido de Cássia Kiss. Era 1989 e os seios da atriz apareceram em horário nobre. A função era social, ensinar as brasileiras como fazer o autoexame de prevenção ao câncer de mama. “Meus peitos eram a oitava maravilha do mundo”, brinca. Há um ano, mais uma vez os peitos de Cássia Kiss causaram polêmica. Foi quando ela revelou, numa entrevista à Marília Gabriela, que dava de mamar para o filho de 4 anos. Comentários, piadas de mau gosto e análises freudianas não faltaram na época.
Cássia Kiss é mesmo uma mulher de peito. Tanto que ultimamente ela tem declarado, nunca antes com tanto orgulho, ser “a mulher mais feliz do mundo”. É que, há um ano e três meses, conheceu, em um aeroporto, o médico e psicanalista João Magro. Apaixonada, terminou uma relação de 12 anos com o jornalista Sérgio Brandão, com quem teve dois de seus quatro filhos. Trocou alianças com o novo par em setembro e, desde então, é em João e na família que ela está focada. Para que esta entrevista saísse, foi preciso marcar duas baterias de conversa, já que na primeira a atriz praticamente só falou do novo amor.
Sem rótulos
Cássia nasceu em São Caetano do Sul, Grande São Paulo. Filha de uma dona de casa e de um mecânico, saiu de casa aos 15 anos para se tornar uma das grandes representantes da telenovela brasileira. Em seu currículo estão 19 novelas, 7 minisséries e 13 filmes. Foi Lulu de Roque Santeiro (1985), Leila de Vale Tudo (1988), Maria Marruá de Pantanal (1990), Guiomar de Um Só Coração (2004), Maria da minissérie JK (2006) e, recentemente, fez sucesso como a beata Mariana, da novela Paraíso. “É legal ver que ninguém me rotulou. Não sou a vilã, não sou a mocinha, não sou o bandido, não sou a velhinha.” No cinema fez, entre outros filmes, Bicho de Sete Cabeças (2001), Meu Nome não É Johnny (2008), Chega de Saudade (2008) e acaba de ganhar o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival do Rio pelo filme Os Inquilinos (2009).
Aos 52 anos de idade e 31 de carreira, depois de quase uma década longe do teatro, voltou ao palco sob a direção de Ulysses Cruz. Zoológico de Vidro, de Tenesse Williams – em montagem superelogiada pela crítica especializada –, está em cartaz até dezembro, no Rio. O diretor é amigo da época em que Cássia fazia teatro amador, era macrobiótica, discípula do guru indiano Osho, comia apenas dois potinhos de arroz integral por dia e morava numa quitinete sem cortinas, tamanha a dureza financeira.
Hoje a atriz vive num apartamento espaçoso na Barra da Tijuca, no Rio, com o marido e os quatro filhos: Joaquim Maria, 13, e Maria Cândida, 12, de sua relação com o publicitário José Alberto Fonseca; Pedro Gabriel, 6, e Pedro Miguel, 5, do casamento com o jornalista Sérgio Brandão. São agregadas também a empregada de Cássia e sua filha de 15 anos. Na sala de estar, dois sofás de pano em diferentes tons de verde, vasos de orquídeas brancas, um skate largado no canto e quadros de artistas brasileiros como Heitor dos Prazeres e Iberê Camargo. “Cansei de todos, quero trocá-los por quadros de flores”, diz. Enquanto toma seu misoshiro e bebe suco de uva orgânica, Cássia, à vontade em sua casa, abre o peito para a Tpm.
Tpm. Como é que você, com as rugas naturais da idade, lida com as fórmulas mágicas de beleza que impregnam as revistas femininas esta época do ano?
Cássia Kiss. Nunca tive isso. Sou uma mulher de 52 anos e nunca fui prisioneira de nada, de padrões, de jeito nenhum. Admiro o caminho que eu escolhi. O caminho de envelhecer é bonito, quero envelhecer com dignidade.
Você é contra plásticas?
Não tenho nada contra quem faça, apesar de achar que muita gente acaba estragando o próprio rosto. Quanta vezes você não ouve “ah, aquela pessoa era tão bonita. Ih, um olho fecha o outro não”? Sei que me veem e dizem “por que ela não puxa um pouquinho aqui?”. Porque prefiro fazer personagens de que digam “como ela está bonita com essa personagem”. Se eu for contar a história de uma mulher bonita, vou fazer de tudo para fazer uma mulher bonita, estar com um belo cabelo, uma pele linda, um corpo bacana, um figurino legal.
Você tem dito em entrevistas que depois de 26 anos de depressão e bipolaridade é a mulher mais feliz do mundo. Quem era a Cássia bipolar e o que mudou nela?
Ser bipolar é perder o controle. Você perde a paciência num nível mais agudo com os filhos, por exemplo. Quando vê está sacudindo a criança, falando mais alto. Vira meio bicho, sabe? É uma coisa que amedronta as pessoas. Aí volta e quer se desculpar, mandar flores, pede perdão, chora. Repeti isso muitas vezes. Um medicamento e acompanhamento evitam que isso aconteça. Mas tomar medicamento não é o fundamental. Importante é o ambiente familiar. É ele que te torna doente. Leia o texto completo aqui.
(texto publicado na edição #94 da Tpm)