Vai ter gorda de biquíni e de shortinho sim!
Campanha que mostra musas plus size de biquíni causa "guerra" na internet. Até quando o choque de ver que todo tipo de corpo existe e precisa ser aceito?
Duas meninas estão se arrumando para entrar na piscina. Elas são lindas. Tocam nos cabelos. Deitam na borda relaxadas. Depois, dão um mergulho. Normal, né? Mas, ontem, uma propaganda de um energético mostrando exatamente isso fez a internet enlouquecer, atacar, querer matar. Motivo: as duas meninas são gordas.
A jornalista, empresária, DJ e amiga dessa revista Flávia Durante, ao lado da também jornalista Ju Romano, criadora do blog Entre topetes e vinis, são as estrelas da campanha em questão. Elas contam sobre como é ser pluz size na linha: "e aí, vai encarar?". Fazem questão de dizer que a moda é que tem que se adaptar a elas. Que são donas do próprio corpo e se jogam na água avisando que vão em frente, são fortes, chegaram para fazer o mundo aceitar as diferenças e vão brigar para isso.
Flávia e Ju estão desde ontem sendo xingadas das piores coisas (não vamos reproduzir os xingamentos aqui) pelo simples fato de serem gordas, usarem biquíni, dizerem que estão bem assim. Uma das acusações é que elas não seriam saudáveis. Mas, escuta, quem é você para saber? Você é o médico delas? Obesidade pode causar problemas de saúde? Pode. Mas as meninas não estão ali falando: "coma porcarias" (como se todo gordo se alimentasse de porcarias!). Elas etão avisando que existem e o mundo que aceite.
A marca de energéticos deu uma super bola dentro ao apresentar as meninas na piscina dando a letra. Causou. Porque o mundo, olha, o mundo em 2016 parece não estar mesmo preparado para aguentar gente que não está nos padrões e mesmo assim insiste em existir, ter voz, chutar as portas e ser feliz. Aliás, até quando mesmo vamos insistir nos padrões?
A trajetória das meninas plus size é cheia de lutas há alguns anos. Em 2013, Preta Gil lançou uma coleção na C&A, posou de shortinho e foi xingada, claro. Preta Gil é uma das meninas mais xingadas no Brasil, já foi, entre outras coisas, comparada com uma baleia em um programa de televisão.
São meninas como Flávia, Ju e Preta que pressionam as marcas para fazerem roupas dos seus tamanhos. Se as marcas não fazem, bem, elas criam grifes de roupas incríveis que cabem nelas. A própria Flávia é criadora do bazar Pop Pluz Size, que junta várias marcas para o público.
As coisas estão mudando? Um pouco. E tudo isso graças a elas. Que pressionam, brigam, não ficam quietas. Esse ano, a grife LAB (dos irmãos Emicida e Fióti) levou modelos plus size para a passarela hiper magra e branca do São Paulo Fashion Week, de quebra, convidou várias meninas para o desfile.
No mesmo evento, um programa do YouTube chamado A gorda e o gay foi ao evento entrevistar fashionistas. A pergunta genial foi: "É verdade que o mundo da moda odeia as gordas e ama os gays?" Apenas um jornalista de moda foi capaz de assumir que sim, que isso é errado, absurdo. Uma sacanagem. As blogueiras entrevistadas ficaram meio olhando para o além, respondendo que achavam que em todas as lojas tinha roupa para gorda. Bobinhas.
Não precisa ser plus size para saber que um biquíni M em geral fica pequeno em alguém que usa 36 (aconteceu comigo). E que essas garotas que usam mais que 46 sempre foram excluídas da moda, das passarelas, julgadas e, olha só, "proibidas" até de usar um biquíni.
Na hora que elas usam isso em público, em vídeo, veja só a audácia. As pessoas piram. Sim, tem quem se assuste com o simples fato de duas meninas gordas usarem biquíni. O susto vai continuar. Vocês vão ter que se acostumar. Essas meninas não vão parar. Vai ter gorda sim. Vai ter biquíni. Aceita!
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