Uma estranha no paraíso das bikes

São mais de 600 quilômetros de ciclovia, 710 bicicletas para cada 1000 pessoas. E essa repórter, blogueira e neurótica nunca tinha andado de bike na cidade onde mora!

por Nina Lemos em

 

São 620 quilômetros de ciclovia, 500 mil bikes na rua por dia, um numero de 710 bicicletas por 1.000 pessoas (acho que os 290 são as pessoas recém nascidas ou as de 100 anos). E, claro, todos os tipos de bikes e ciclistas que você pode imaginar. Berlim é a terra da bicicleta. Aqui tem DJ que usa a bike para colocar a pick up, café de bike e o karaokê famoso do Mauerpark, com o equipamento montado em cima de uma bicicleta pelo ex bike-boy Joe Hatchiban (ele virou uma celebridade na cidade e reúne milhares de pessoas em seu karaokê todo domingo.)

Os ciclistas, bem, eles têm de três anos de idade a 80. Podem ser senhores estilosos, como um que entrevistei para o Trip TV ano passado e parecia o Jonny Cash. E muitas velhinhas carregando compras de supermercado e mães puxando um carrinho com cinco crianças atrás e uma na frente. Existem biclicetas para alugar em todo o canto. E também um site onde você aluga a bilke pagando o preço que quiser, aquele que achar justo, ou quanto tiver de dinheiro.

Pois bem. Eu moro aqui faz quase um ano direto e eu não tinha uma bicicleta. E eu nunca tinha andado de bicicleta em Berlim(!!!!!). Morar aqui e não andar de bike é ser uma excluída e uma loser.

Meu "loserismo" tem explicação psicanalítica. Quando eu tinha uns seis anos, falhei ao participar de um passeio de bike infantil em Piraí, onde morava. Dei defeito. Minha mãe teve que acudir, chorei, dei escândalo e tive que sair no meio, humilhada. A cidade é muito pequena e isso virou uma lenda urbana. Desde então, a fama de que eu não sei andar de bicicleta se espalhou por Piraí, Rio de Janeiro, São Paulo, Nova York e Berlim. E, o que é pior… se espalhou dentro de mim.

Por isso, atenção! Esse é um texto de superação! Eu, a que não anda de bicicleta (apesar de andar), hoje andei 1 quilômetro e meio de bike sozinha pelas ruas. Na verdade, não foi pelas ruas, foi pela calçada. E não, não tive coragem de usar a ciclovia maravilhosa porque fiquei com medo de ser atacada pelos outros bikers. Mas andei! Não caí. Eu peguei a minha bike e saí andando na chuva!!!!! E cheguei ao meu destino me sentindo a própria alemã descolada, bem resolvida, adulta e politicamente correta quando tirei minha tranca da bolsa e amarrei minha bicicleta em um estacionamento de bike.

A minha bike é linda e de criança. "Não, ela é para pré adolescente", disse a Jô. Escolhi na feirinha e o vendedor me disse: "a última dona foi a minha filha de seis anos". Dane-se a criança gigante! Eu me sinto muito adulta.

Logo vou andar com minha bike no trem, no metrô (pode!), no parque e na casinha de sapê. E quando eu estiver no parque, tenho certeza de que ela vai voar tipo no filme ET. Adulta? Sei. Dicas de bike em Berlim? Eu dou! Quer superar traumas de infância? Eu ajudo! Neguinho também se acha!

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