Uma barriga e um metrô

Grávida em Manhattan, Tania Menai faz uma ida ao metrô virar uma aventura antropológica

por Tania Menai em

 

Navegar com uma barriga de gravidez por Manhattan é uma aventura antropológica. De uma hora para outra, aquelas caras emburradas dos pedestres desaparecem. Pouco a pouco, passantes começam a sorrir, mães nos olham com cumplicidade e algumas boas almas abrem a porta do banco para podermos entrar. Mas o curioso mesmo é o metrô, onde se espera ter assento garantido. Isso nem sempre acontece, mesmo num país de primeiro mundo.

As linhas do metrô nova-iorquinas têm personalidades diferentes, levam e trazem pessoas de bairros com realidades distintas. O que elas têm em comum é a indiferença. Ninguém fala com ninguém, ninguém olha para ninguém. Mas, com uma barriga aparente, tudo muda. Nunca fiz tantas “amizades” com mulheres mais velhas que, ao me verem, começavam a falar sobre suas experiências anos atrás. Desabafavam de maridos que não participavam o suficiente e sempre diziam que a maternidade é a melhor coisa do mundo. São elas as primeiras a se levantar ao ver uma mulher grávida. E, muitas vezes, as únicas.

A culpa é nossa
Conversando com amigas na mesma situação, elegemos a linha A como a mais cortês e a linha F como a mais mal-educada. E veja bem: a linha A vai para bairros carentes, ao contrário da F. Chegamos à seguinte conclusão: homens brancos (ou seja, os americanos, loiros, nascidos aqui) não levantam para uma mulher grávida no metrô. Talvez por serem a camada “dominante”, nunca tiveram que levantar para ninguém. Escondem-se nos seus iPods e livros, fingindo que você não existe. Adolescentes latinas, nascidas na cidade, estilo Mariah Carey, lamentavelmente também não. Talvez por falta de uma mãe em casa, que lhes ensine bons modos.

Quem levanta, curiosamente, são os homens imigrantes: mexicanos, indianos, chineses. Talvez por serem mais humildes e educados fora daqui. Mas a pole position da educação vem dos homens americanos negros. Esses cedem lugar imediatamente. Talvez por terem sido criados apenas pelas mães e visto como é difícil ser uma delas. Por isso, cara leitora, eduque seus filhos. Se um homem não levantar para uma mulher, a culpa é nossa.


Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 13 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, no site da Tpm, e também do site www.taniamenai.com

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