Um dia histórico

Morte de Nestor Kirchner deixa BsAs em clima de comoção

por Ana Manfrinatto em

Terça-feira foi meu aniversário. Quarta-feira foi feriado nacional por conta do censo. O comércio estava todo fechado, o transporte público mal estava funcionando e ninguém trabalhou (a não ser os recenseadores, claro). Ou seja: o dia prometia ser ideal para curtir uma ressaca.

Só que a ressaca, neste caso, não foi de uma festa de aniversário mas sim do clima de apreensão e comoção que tomou conta da cidade quando por volta das 10h a televisão local anunciou a morte do ex-presidente Nestor Kirchner depois de uma parada cardiorespiratória na cidade de El Calafate.

O fato de estar todo mundo em casa fez com que todo mundo não desgrudasse os olhos da tevê ou então que muita gente marchasse com a bandeira da Argentina nas mãos rumo à Plaza de Mayo, que está na frente da Casa Rosada, a sede do governo.

Para se ter uma ideia, cheguei em casa e a minha roomate estava aos prantos. Jornalista que sou, coloquei um bloquinho, a Bic 4 cores e a câmera fotográfica na mochila e também fui até a Casa Rosada, à pé, e devo ter andando pelo menos uns três quilômetros na ida e uns outros três na volta.

Na praça as pessoas faziam fila para deixar uma flor em frente à sede do governo. Havia jovens, velhos, gente com o cachorro no colo, estrangeiros e famílias, como uma com quem eu conversei que fez questão de levar os três filhos até lá para que eles vivessem de perto uma manifestação popular. “É que quando a gente era criança vivíamos na ditadura e isto era proibido”, comentou o pai, um médico de 38 anos.

Aqui eu não vou contar quais presidentes virão para o velório, quantas pessoas estão agora na praça, o que vai ser da presidente Cristina Kirchner sem o marido e principal apoio político porque tudo isso está nos jornais, nas tevês e o nos sites do mundo inteiro. Só queria mesmo contar que se tratou de um dia histórico com uma pegada de “o dia em que a Terra parou” em que o que se escutava pelas ruas era uma marcha silenciosa de uma gente com olhos cheios d’água e uma vontade muito grande de homenagear este homem, dar suporte à sua mulher e, sobretudo, de apoiar o modelo político iniciado por Nestor Kirchner.

Desde cedo, quando eu fiquei sabendo da notícia, só conseguia me lembrar do dia em que o Senna morreu: o que, do alto dos meus novíssimos 29 anos, havia sido a maior comoção nacional que eu já havia vivido.

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