Tocando a distância - Ian Curtis e Joy Division
Deborah, a viúva do músico, falou com a Tpm sobre biografia que chega ao Brasil
Uma vida sem controle. Assim viveu o britânico Ian Curtis, que com quase 24 anos cometeu suicídio. No auge da carreira com a banda Joy Division, suas danças peculiares durante as melodias de energia pesada denunciavam os ataques epiléticos e as variações emocionais do vocalista. Entre os motivos da morte de Ian, aparecem a depressão, o divórcio com sua mulher, Deborah Curtis - com quem teve uma filha - e o caso extra-conjugal com Annik Honoré. Meses antes de se enforcar, tomou uma superdose de remédios e foi parar no hospital, alguns amigos consideram o episódio como um aviso, um pedido de ajuda.
Ian é um mito da era pós-punk e, embora suas músicas revelem boa parte de suas emoções, ainda existem muitos lugares para mergulhar e descobrir quem foi aquele que hipnotizou uma geração. Recém lançada no Brasil, a biografia Tocando a distância - Ian Curtis e Joy Division foi escrita pela viúva Deborah, que tem propriedade para falar do homem que estava em cima e embaixo dos palcos. O livro foi a base para o filme Control (2007) e traz todas as letras de músicas - inclusive inéditas -, anotações, fotos de arquivo pessoal, lista de shows e escritos de dois importantes jornalistas musicais; Jon Savage e o brasileiro Kid Vinil.
À Tpm, Deborah falou com exclusividade sobre a biografia.
Tpm Você escreveu o livro em 1995, 15 anos depois da morte de Ian. Como foi revisitar a história dele, e também a sua, com detalhes de tantos anos depois?
Deborah Curtis Embora eu tenha escrito o livro 15 anos após a morte de Ian, esses eventos eram muito recentes em minha mente, por isso foi fácil de lembrar o que aconteceu e a ordem deles. Entrevistar o resto da banda e seus amigos me permitiu preencher algumas das lacunas e me fez lembrar de algumas coisas que eu tinha esquecido.
Qual memória do Ian mais te marcou? O que é inesquecível? Eu nunca vou esquecer a sua auto-confiança e como ele seguiu seus sonhos. As lembranças que mais me marcaram são aquelas que dizem respeito só a mim e a ele.
Você se tornou mais você depois que ele morreu? Eu acho que eu não me tinha me tornado mais eu até recentemente, acredito que isso aconteceu conforme fui ficando mais velha e adquirindo experiências. Não acho que foi tarde, acho que foi na hora certa. Ele morreu quando ainda estávamos amadurecendo, não acredito que nenhum de nós teve a chance de se desenvolver antes que ele fosse embora.
O que você faz agora - e ama fazer - e, ao mesmo tempo, acredita que o Ian desaprovaria e detestaria? Depois que meu livro foi publicado, eu continuei com os meus estudos e conquistei um mestrado em Inglês. Ele provavelmente diria que não era necessário, mas era um sonho meu. Eu gosto de galerias de arte e ir ao teatro e ele teria dividido essas coisas comigo. Eu não acredito que ele desaprovaria o jeito que eu vivo hoje, acredito que ele me encontraria em paz e vivendo minha vida tranquila.
"Tem muitos outros escrevendo sobre isso, pessoas que não conheciam o Ian e agora as pessoas vão saber de tudo pela minha perspectiva"
Por que é tão importante escrever a história de vocês e publicar para todo mundo ler? Hoje eu sou uma pessoa tranquila e é mais fácil escrever as coisas. Tem muitos outros escrevendo sobre isso, pessoas que não conheciam o Ian e agora as pessoas vão saber de tudo pela minha perspectiva. Eu achei o processo de escrita gratificante e catártico.
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