The fashion is at the table
E aí começam os badalos: só entra na tenda quem tem convite. Uma vez lá dentro, rola uma certa fila no saguão para entrar nos desfiles. O mulherio não consegue disfarçar a ansiedade. Fotógrafos se aglomeram para pegar os melhores lugares. Jornalistas, loucos por brindes, já viram dias melhores. Todos os desfiles começam com pelo menos meia hora de atraso, e duram cerca de 20 minutos. Antes disso, fica todo mundo na platéia vendo quem foi e quem não foi. Quer dizer, todo mundo menos eu, que nunca sei quem é quem. O pior é quando me perguntam se eu vi o rapper tal, ou o VJ não sei o que, ou se o editor francês da revista tal está lá, minha resposta é sempre a mesma: "Tá perguntando pra mim?".
Dos costureiros, conheço pessoalmente o Carlos, o Francisco e o Amir. Três lutadores que sacam pra burro de tecido, de moda e de cultura. Gente que tem gabarito pra competir no mercado internacional. Os caras são profissas, pé-no-chão e empregam um monte de gente. Mas aí tem aquela galera que navega pelo meio fashion: a turma do deslumbre. Claro que não são todos, mas o alto teor de peruagem e falta de assunto faz desse meio uma "aula de antropologia", como diz um amigo jornalista. Basta sentar e observar o teatro. Tem a setentona vestida de adolescente ou a repórter com óculos escuros ocupando uma cadeira para si e outra para o ego. Sem falar que há uma linha muito fina entre moda e Halloween. Exemplo de um sujeito que chegou ao camarim do desfile da Rosa Chá usando terno branco, unhas laranjas e óculos dourados: opa, esse cruzou a linha!
Anda por lá também um policial da NYPD que é tão gato que por pouco não é confundido com modelo. E, claro, um diplomata nepalês pra lá dos 60 anos que faz questão de desfilar pela Fashion Week com sua roupa de bolinha, combinando com a bota. "Ocupadíssimo" em seu gabinete da ONU, ele tira uma semana de férias só pra isso. E pior: após o desfile do Carlos Miele, resolvemos almoçar em grupo na lanchonete do evento. Ocupamos duas mesas. Quando olho para a outra mesa está Patrícia Poeta, jornalista da TV Globo, sentada ao lado do nepalês. O papo entre os dois estava surrealmente animado. Enquanto isso, na nossa mesa, o desafio era arrumar alguma desculpa para chamar "a polícia". Yes, aquelas algemas viraram o sonho de consumo mais fashion do outono 2006.