Test drive do amor

Duas repórteres da Tpm e da Trip testam o aplicativo e concluem: a brincadeira rende

por Camila Alam em


Sete gatinhos

Natacha Cortêz, 26 anos

“Eu achava que o Tinder era ainda me­lhor que os encontros ao vivo, e que exigia o mínimo de conhe­cimento e interesse entre os envolvidos. Não é bem assim”

Sempre tive preconceito com quem recorre a aplicativos pra conhecer gente. Costumava dizer que era coisa de quem não sabe se relacionar ao vivo, e que o ambiente virtual era lugar de freaks e sequestradores. Sim, nesse nível. O Tinder foi sugestão do pessoal do trabalho. Acabei baixando o app antes de ele virar sensação com deus e o mundo. Quatro dias depois do primeiro match, marquei um date.

Eu nunca encontraria o Dudu na “vida real”. Ele é seis anos mais velho, frequentava lugares que eu nem ao menos conhecia e falava de seguro de carro, em vez da nova banda X ou do novo filme Y. Durou coisa de seis dates e acabou com um “perdeu a graça”. Fiquei triste por dois dias e logo saí com o Fê; um ano mais novo, mas com jeito de cinco anos mais novo. Foi legal pelas risadas e parou por aí.

Entre o terceiro e o sétimo Tinderdate, algumas histórias engraçadas e nenhuma romântica. Teve um louco, o sexto, que achou que deveríamos nos beijar antes do “Oi, então você é a Natacha?”. Ele chegou no Hadouken (um golpe de Streetfight que te deixa indefeso), e eu não tive jogo de cintura pra recuar. Como só um louco seria pouco, teve o Bruno, com quem a relação foi de terapeuta e paciente. Ele precisava de alguém pra ouvir a história de seus 12 anos de idas e vindas com a esposa. Aham, esposa. Mas claro que ele só contou isso às 4 da manhã, depois de quatro caipirinhas de vodca e jabuticaba.

Ontem, dois meses depois de instalar o aplicativo, deletei. A rapidez e a falsa impressão de intimidade me incomodavam. No começo, achava que o Tinder era ainda melhor que os encontros ao vivo, e que exigia o mínimo de conhecimento e interesse entre os envolvidos. Não é bem assim. Dá pra se enganar também, e pra deixar tudo frívolo e raso. Dá pra deletar o cara da sua vida do dia pra noite, e vice-versa.

Dos sete meninos que encontrei por causa do aplicativo, não tenho contato com mais nenhum. Deixei de segui-los no Instagram (um segundo ou terceiro passo depois do Tinder), desfiz a amizade no Facebook e deletei do WhatsApp. Mesmo assim, seguindo a lei dos encontros pós-modernos, aquele cara que te deu um pé sempre continua curtindo cada foto do seu Instagram como se isso fosse permitido.


Muita enrolação, pouca curtição

Camila Alam, 28 anos

“Pra mim, mais do que encontros, o Tinder gerou assunto e um vocabulário novo. ‘Tenho um Tindate hoje’ virou frase comum”

Baixei o Tinder depois de ver três das meninas aqui na redação dando muita risada, superempolgadas em cima do celular. Resolvi entrar também. Logo nos primeiros matches, saquei que o pique Bate-papo UOL ia predominar. “O que você faz? Quantos anos você tem? Tecla de onde?” Puta saco. Então acabei dando prioridade para aqueles com quem eu conseguia manter uma conversa menos óbvia. Um dos papos começou com: “Qual celebridade morta você gostaria de ser?”. Outro me adicionou no Facebook e começamos uma intensa troca de links musicais. Enquanto escrevo este texto, tenho 32 matches; com 12, nem sequer comecei uma conversa. Com a maioria dos outros, o papo não engrenou. Com dois, planejo sair em breve. Com um, bocejei três vezes durante o encontro. Com mais outro, vi o show do Bobby Womack e está rolando um romancito legal.

Uma das dificuldades de usar o aplicativo – mas nem é culpa dele – é conseguir administrar e conciliar tudo que ele propõe. Se bobear, você troca os nomes, confunde os dates, conversa de coisas com um achando que está falando com outro. Conheço gente que deletou o app, achando que estava causando confusão demais. Pensa: num dia sua vida amorosa tá tranquila, no outro você tem que escolher entre um na mão e dois voando. Amores líquidos em uma era líquida.

Pra mim, mais do que encontros, o Tinder gerou assunto e um vocabulário novo. “Tenho um Tindate hoje” virou frase comum, assim como “E aí, rolou match?”. Percebi também que a quantidade de mulheres interessantes é bem maior do que a de homens. Mas uma das coisas mais legais é encontrar um amigo (amigão mesmo) no cardápio virtual. Geralmente a conversa vai pra zoeira e sacanagem.

Eu, que morro de preguiça de jogos amorosos em geral, não consegui muito mantê-los no virtual. Requer certa dose de paciência e inspiração que talvez não faça parte da minha personalidade. Então cheguei à conclusão de que o Tinder é mais uma brincadeira viciante, mais ou menos como CandyCrush, Song Pop ou Draw Something. No começo é bem legal, porque todo mundo está se divertindo, mas, a partir do momento que enjoa, perde a graça. Não seria assim também com os relacionamentos na vida real? Saldo final: muita enrolação, pouca curtição.

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