

Talvez esse calor não seja do verão
Existem mais de 50 sintomas ligados à menopausa, mas isso não impede que a gente demore pra entender o que está acontecendo com nosso corpo. Como identificar e lidar com essa fase sem falar sobre ela?
Você já se pegou na dúvida se está na menopausa? Já ouviu que era cedo demais pra isso? Não existe idade certa, mas ela chega por volta dos 48 anos e marca o fim do ciclo menstrual, sendo oficializada após 12 meses sem sangramento. Mas a fase reprodutiva é a única coisa que se encerra ali: para se ter uma ideia, cerca de 40% da nossa vida acontece na pós-menopausa.
Existem mais de 50 sintomas ligados à menopausa e 8 em cada 10 mulheres sentem pelo menos seis deles em um único mês. Ondas de calor, suores noturnos, fadiga, tontura, irritabilidade, palpitação, perda de libido, ansiedade, secura vaginal, confusão mental, dor nas articulações, problemas digestivos, pele seca e com coceira, calafrios, insônia, problemas de memória... Quantas de nós sabem que tudo isso pode ser sinal da chegada dessa fase?


“Eu entrei na menopausa há um ano e meio, aos 47 anos. Estava mega sensível com tudo, chorando por qualquer coisa, me irritando com situações que jamais tinham me irritado, mas achava que a menopausa era depois dos 50, olha que ignorância. Então não pensei que pudesse estar passando por uma revolução hormonal. Eu só falei com a minha ginecologista porque estava sem menstruar. É como se a gente não validasse os alertas psíquicos e sintomas comportamentais – o que é um absurdo, não só na menopausa", conta a atriz e escritora Maria Ribeiro. “A fala é um movimento de cura, de alívio, de ressignificação. Quantas vezes a gente passa por coisas difíceis que são amenizadas pelo simples fato de sabermos que outras pessoas também estão com as mesmas questões?”.
Uma pesquisa com a audiência da Tpm mostrou que 1 em cada 4 mulheres não tem espaço para conversar sobre a menopausa com ninguém. 45% delas encontram conforto para esse papo entre as amigas, 14% já discutiram o assunto com um familiar e 13% com um(a) parceiro(a). Mas 58% delas se sentiram julgadas por isso em algum momento. Quando perguntadas sobre os maiores absurdos que já ouviram sobre a menopausa, as respostas mostram o porquê desse sentimento. "Bem-vinda à velhice", "você é uma louca ridícula", "toma chazinho de amora que passa", "é assim mesmo, não tem o que fazer", "não se preocupa, esse calor tá todo mundo sentindo" e o clichê "que frescura" foram algumas frases que as mulheres da nossa comunidade escutaram de amigos, parceiros, chefes ou familiares.
"Eu tenho certeza de que se a menopausa fosse um assunto mais da sala de jantar, como diziam Os Mutantes, a gente sofreria menos com a sua chegada. Imagina como seria se as mulheres grávidas não falassem, por exemplo, sobre o parto? É mais ou menos a mesma coisa, no sentido de que você sabe que aquilo pode não ser fácil, mas você vai se preparando. Pra algumas mulheres é mais tranquilo, pra outras é mais pesado, mas o tema precisa ser naturalizado", diz Maria Ribeiro.
O problema é que, além de os sintomas serem facilmente confundidos com outras questões, ainda há dificuldade em encontrar médicos que realmente ouçam as nossas queixas. Como o diagnóstico do climatério é clínico, é essencial a escuta atenta do profissional sobre o que a paciente sente, pois os exames complementares servem para afastar outras condições. Nossos níveis hormonais não definem a menopausa.
Isso quando chegamos ao consultório médico. Um estudo conduzido pela Astellas entre 2021 e 2022 mostrou que 51% das mulheres brasileiras na peri e pós-menopausa não estão recebendo nenhum tratamento. A menopausa não tem cura porque não é uma doença, mas procurar ajuda especializada faz toda a diferença. Como melhorar a qualidade de vida sem entender o que está acontecendo com o nosso corpo?
Quando somados à falta de conhecimento e empatia das pessoas ao redor, os sintomas podem afetar várias áreas da vida. Pesquisas mostram que cerca de 65% das mulheres relatam dificuldade para dormir e 50% percebem uma queda de rendimento no trabalho. Quando consultamos a audiência de Tpm, outros sintomas foram listados como os principais responsáveis por afetar essa parte da nossa vida: indisposição, falta de concentração, irritabilidade, esquecimento, fadiga, estresse e sonolência. É claro que tudo isso está conectado e, definitivamente, não é frescura: perdemos, em média, três horas de produtividade por semana devido às ondas de calor e aos suores noturnos.
Entre todos os sintomas, esses são os dois campeões. As ondas de calor e os suores noturnos também são conhecidos como fogacho, sensação súbita e intensa de calor no rosto, pescoço e tórax que dura geralmente de um a cinco minutos, mas pode persistir por quase uma hora. Cerca de 80% das mulheres vão vivenciar isso entre os 40 e os 65 anos, mas esses momentos ainda podem ser motivos de constrangimento, especialmente no ambiente profissional. Ter que deixar uma reunião, ir embora de um restaurante ou se ver com a roupa totalmente molhada de suor em um dia frio foram algumas das situações relatadas por nossa audiência.
Consultar um ginecologista e conhecer as opções de tratamento, hormonais ou não, pode ajudar a aliviar os sintomas, além de prevenir problemas futuros como a osteoporose e doenças cardiovasculares. E não é preciso esperar a interrupção da menstruação ou qualquer outro marco para buscar ajuda: o dado mais relevante é o seu bem-estar. Conversar com as mulheres perto de você, anotar tudo o que você tem sentido e listar as dúvidas antes da consulta pode ajudar a conseguir uma troca mais proveitosa. Afinal, a menopausa é uma fase que merece ser bem vivida, e não precisamos passar por ela sozinhas.
Na semana do Dia Internacional da Mulher, a Tpm fez uma pausa na programação para trazer esse assunto para a sala de jantar, como definiu Maria, e esclarecer todos os mitos e tabus que o envolvem. Por isso, convidamos a ginecologista, obstetra e mastologista Rita Dardes para responder às principais dúvidas da nossa audiência.
Como saber se já estou na menopausa? Posso ter sintomas antes da parada da menstruação e da alteração nos exames?
Rita Dardes. Vamos esclarecer os conceitos! Menopausa é ausência de menstruação há 12 meses. Já a mulher que está na transição menopausal, período que pode ocorrer a partir dos 40 anos, pode apresentar alteração do ciclo, mas nem sempre os níveis hormonais se alteram.
Quais costumam ser os primeiros sintomas e quanto tempo podem durar? Um dos primeiros sinais de baixa reserva ovariana é a alteração do ciclo menstrual. Também podem aparecer as ondas de calor, que às vezes duram anos. A atrofia vaginal infelizmente não melhora com o tempo, mas tem tratamento. Já os sintomas psíquicos (alteração de humor, ansiedade, depressão) são mais comuns na transição menopausal e na pós-menopausa recente, assim como a insônia.
Como lidar com os calores que estão atrapalhando meu sono e minha vida social? Os calores têm impacto direto na qualidade de vida. Durante esse período, sempre oriento minhas pacientes a usar roupas leves, ficar em ambientes ventilados, evitar o consumo de álcool e alimentos condimentados. Temos que tratar essas ondas de calor para que a mulher possa ter qualidade de sono, e não constrangimento social. Para saber se medicamentos específicos podem ajudá-la, converse com o seu médico.
O que fazer ao relatar sintomas ao médico e ouvir “você não tem nada”? A mulher apresenta vários sintomas climatéricos como fadiga, calores, insônia, depressão, cefaleia, tontura, zumbido, artralgia, batedeira, secura vaginal, diminuição da libido e o médico diz que não tem nada? Sugestão: busque mais informações sobre seus sintomas e outra opinião médica.
Como saber se a reposição hormonal é para mim? Somente um especialista é capaz de identificar se você pode realizar terapia hormonal. Algumas situações clínicas, como pacientes que já tiveram câncer de mama, ataque cardíaco ou AVC, contraindicam o uso.
Quando devo começar o tratamento? O início da terapia deve ocorrer assim que os sintomas começarem. Se a mulher ainda menstrua espaçadamente, mas apresenta sintomas como ondas de calor e suores noturnos, merece ser tratada.
Só a reposição hormonal pode tratar os sintomas da menopausa? Existem diversos tipos de tratamento para a menopausa: medicamentos (hormonais ou não), mudanças no estilo de vida, terapias comportamentais ou aqueles que tratam um sintoma específico. Somente o seu médico pode avaliar o que funciona melhor para você.
Estresse, atividade física, sono e alimentação podem influenciar nos sintomas? Quando estamos em constante estresse, ativamos o sistema adrenérgico, o nível de cortisol fica elevado e os sintomas se intensificam. Na atividade física liberamos neurotransmissores essenciais para o bem-estar e elementos antioxidantes que impactam em dores, muito comuns neste período. A alimentação é a base de tudo, especialmente se combinada com baixo consumo de álcool.
Como posso me preparar para esse momento? Após a menopausa existe uma tendência ao processo de sarcopenia, isto é, a diminuição da força e da massa muscular. Por isso a importância da atividade física regular. O estímulo muscular é fundamental para a manutenção da densidade mineral óssea, do equilíbrio e da mobilidade. O ideal é a associá-lo à atividade aeróbica.
Você pode saber mais sobre os sintomas da menopausa no umapausanocalor.com.br. Vai lá!
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Imagem principal: Ilustração: bia toma (@biatoma_)
Ilustrações: bia toma (@biatoma_)