Tabefes com classe
Adoro minha aula de kickboxing – mas não a ponto de alugar qualquer um dos quatros filmes de Stallone. O milagre aconteceu ontem à noite, quando me chamaram para assistir à primeira versão de Rocky (1976), no HBO Bryant Park Summer Film Festival. A cada segunda-feira do verão, este evento traz para o Bryant Park os clássicos do cinema. Voilà: este é, de fato, o melhor evento do verão – senão do ano. Trata-se de um parque atrás da Biblioteca Pública de Nova York, encravado no meio de prédios. Em frente a uma tela gigante, a rapaziada se espalha com toalhas e cobertores pela grama. E para delírio geral, a noite é sempre aberta com um desenho do Perna Longa. “Normalmente temos de 10 a 12 mil pessoas nestes eventos”, disse um guarda do parque. “Mas hoje, já passou dos 14 mil”, completou ele, sorrindo ao dizer que tudo é sempre pacífico.
A civilidade no gramado é incrível. Ninguém grita no celular. Ninguém berra “ô mané, sai da frente.” Ninguém briga. Leva-se vinho, morangos, castanhas. Todo mundo pede licença para qualquer coisa. Uma menina, inclusive, perguntou aos estranhos a sua volta se um cigarro ali incomodaria aos demais. Alguém respondeu que sim. A fumante, então, pediu para que olhassem sua bolsa, e foi fumar feliz fora da multidão. Quando o evento acaba, cada um recolhe seu lixo – em minutos, a grama está mais limpa que campo de golfe. Sem falar na torcida organizada que acontece em todos os filmes: de E o Vento Levou a Dr. Jackyll and Mr. Hyde, o barato é ouvir o “u-huuuuuu” da galera quando a tela exibe beijos, facadas, cenas de terror – ou quando Rocky Balboa dá seus tabefes em carnes de açougue. Eca!
Quanto ao resto do filme...Bem, éramos dois brasileiros, dois noruegueses, um sueco e uma japonesa: ninguém entendeu bolhufas do que saía da boca de Stallone. Escrito por ele, ouvia-se pérolas como Whatta ya talkin' about it ain't my locker no more?, além dos cerca de quarenta Do you know what I mean?. Mas confesso que só entendi uma frase, quando a mocinha diz: “Não deveria estar na casa de um homem estranho”. Aí ele responde: “Não se preocupe. Somos todos iguais.” Brilhante.