Sutiã invisível
De perto, ninguém é perfeito
por Diana Corso | ilustração Lia Assumpção
Qual não foi minha surpresa quando, ao entrar no banheiro feminino de uma festa infantil, encontrei três mulheres exibindo animadamente seus seios umas para as outras. Mais surpresa ainda fiquei quando fui convidada a apreciar as mamas de mulheres que conhecia, mas não tão intimamente assim. Nada contra, fruto do rescaldo hippie da década de 70, acabei sendo meio naturista.
Não era o caso dessas mulheres. Sua falta de inibição devia-se a outra razão: implante de silicone. Estavam orgulhosas dos resultados e as que haviam passado por cirurgias mais antigas os exibiam para animar uma operada mais recente. Também tenho sido convidada a apreciar vários tipos de plástica que, se tivesse vocação para fazer, talvez não caíssem mal ao meu corpo quarentão. Na rua, a generosidade dos decotes costuma ser proporcional ao silicone implantado. A natureza não costuma ser suficientemente redondinha. Num “neonaturismo”, conclui-se que as mulheres se despem com mais facilidade depois de operadas.
Falhas ocultas
Recentemente, uma revista feminina questionou vários homens sobre seios de silicone. Há os marcadamente entusiastas, mas eles são, digamos, um terço. Os outros dois terços correspondem a duas categorias: os que consideram o resultado sinistro e os que são simpáticos à cirurgia por constatar que as mulheres ficam mais autoconfiantes. Diziam estes últimos que não fazem questão, mas, se a mulher fica feliz, é bom para todos.
Mais uma vez se confirma o fato de que, na maior parte das vezes, nós mulheres nos embelezamos umas para as outras, pois, pela estatística improvisada acima, constata-se que, para dois terços dos homens, não precisaríamos ter seios tão perfeitos, bastaria que estivéssemos de bem com eles.
Porém, há uma desinibição que só nos ocorre quando estamos seguras de não ter falhas. Coisas horríveis como estrias e celulites, que os homens nem enxergam, fazem as mulheres perderem o sentido da vida. Exigimos umas das outras a perfeição que a natureza nega a quase todas as mortais, inclusive às modelos quando amanhecem. De perto, ninguém é perfeito.
Plásticas são como sutiãs, espartilhos e cintas, porém incorporados, embutidos. Já ajuda, pois colocar um enchimento e ir a uma festa pressupõe voltar sozinha, satisfeita apenas com os olhares. Operando ou disfarçando, nos empenhamos em reparar falhas pouco visíveis, portanto, estamos ocultando nosso corpo até quando o exibimos em aparente despudor.
Não é por partes, a serem analisadas num programa de qualidade total, que nosso corpo atrai. Apesar de que são os homens que têm no meio das pernas a protuberância que é o detalhe que os diferencia, em nós eles apreciam o conjunto da obra. Eles até são meio fetichistas, mas nem sempre se fixam no óbvio, por vezes são detalhes imprevisíveis, como um olhar, um jeito, um gesto, que disparam suas paixões, muitos deles não nos desejam com detector de defeitos. Ponto para os meninos!