Sobre margarinas e inseticidas

Por que comerciais e inseticidas e repelentes fazem das mulheres mães malucas e neuróticas?

por Juliana Sampaio em

Por Juliana Sampaio e Laura Guimarães, do As Motherns

Há 30 anos os comerciais de margarina assombram as famílias normais. “Comercial de margarina” virou até expressão para aquelas situações de uma casa perfeita: o pai está de camisa para ir trabalhar, os filhos são sorridentes e a mãe, magra, jovem, branca e penteada às 6h30, serve o café. Surreal.

Mas, atualmente, o tipo de comercial familiar que nos irrita é o de inseticidas e de produtos contra microrganismos (pessoas com mais de 30: o microrganismo é o novo micróbio). Sim, devemos cuidar para que o mosquito da dengue não se espalhe. Só que os comerciais irritam mais que zumbido de pernilongo, porque:

• as mulheres/mães de família parecem tão ou mais perfeitas e idiotas do que as de margarina.

• as mulheres são sempre as neuróticas da família com limpeza, segurança e proteção.

• raramente um pai de família aparece cuidando da casa.

• o mundo externo da rua e dos bichinhos escrotos é sempre mostrado como algo perigoso e que deve ser evitado, o que me lembra condomínios fechados, carros blindados e... inseticidas.

• essa obsessão da sociedade do consumo por higiene e esterilidade separa o corpo do desejo, já disse o Baudrillard uma vez.

Sei que as pessoas devem cuidar do ambiente e da saúde. E que não tem problema vender inseticida, sabonete antibactéria,
repelente etc. Só não dá pra botar isso tudo na mão de mulheres atuando feito mães malucas. Dá pra falar de um jeito menos careta e mais adulto.

E, no mais, não se esqueça: proteja-se contra o mosquito da neura.

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