Só no Leblon

por Tania Menai em

Trocar Manhattan temporariamente por algum outro canto do planeta só mesmo pelo Leblon. Numa tarde de quarta-feira, ao deixar um restaurante, deparo-me com um amontoado de gente debatendo algum ocorrido. Seria mais um assalto? Uma bala perdida? Meti o bedelho. E descobrir que o fuzuê girava em torno de um velhinho, bem velhinho, de coluna torta, que acabava de cair. Valente, ele rejeitava ajuda. Bastava levantá-lo que ele pedia para desgrudar e continuar seu caminho, devagar e para lá de frágil. Ninguém ali se conformava. Até que chegam os porteiros do restaurante e explicam que o tal senhor passa todos os dias por ali. Cai toda hora, é levantado e vai em frente. E mais: é geriatra.

Essa vida “quase isolada” de bairro ainda faz do Leblon um dos melhores pedaços do mundo; este é o endereço do Bracarense, do Balada e do Belmonte. Como diz Joaquim, que tomou um suco de melancia ontem no BigPolis (o meu era de manga): “Isso aqui é um espetáaaaculo!” Mistura-se um quê de sofisticação com a doce vantagem de andar de Havaianas. Há um sanfoneiro que te sorri, o pipoqueiro, a vendedora de balas do Leblon 2 que já está lá há mais de 30 anos, um vendedor ambulante de doces, o senhor do cuscuz, que passa de rua em rua gritando ‘olha o cuscus aêêê!?’ e o vendedor de panos de chão (coisa que não existe nos EUA!) – eles nos fazem lembrar que, apesar de empreendimentos de gostos duvidosos como um “Shopping Leblon”, isto aqui é Brasil.

A vida no Leblon tem um pouco de Manhattan; e vice-versa. A única diferença é que no bairro carioca é impossível ser anônimo. Em Manhattan ainda se consegue (tirando os porteiros nova-iorquinos, que, como no Brasil, sabem tudíssimo sobre a sua vida). No Leblon, Joaquim trocou a Barnes & Noble pelas Letras & Expressões. O Central Park pela praia. O Café Lalo pelo Garcia & Rodrigues. Uma cervejaria qualquer pelo Jobi. Mas tem uma sopa japonesa, na rua 56 com a Sexta Avenida, que ele não troca por nada. Nem eu.
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