Sexo é bom, dinheiro também

O mercado erótico brasileiro é dominado por mulheres empreendedoras. Aqui, três delas

por Camila Alam em

O mercado erótico brasileiro é dominado por mulheres empreendedoras que buscam aumentar não só o prazer sexual, mas a conta bancária. Aqui, três delas falam desse cenário excitante

Até pouco mais de uma década atrás, procurar uma loja de produtos eróticos não era tão comum para a maioria das mulheres brasileiras. Quando a primeira feira voltada para sex shops aconteceu no país, em 1997, 95% do público era masculino. Hoje, a Erótika Fair, que acontece anualmente em São Paulo, tem nas mulheres o maior público. Elas também representam as maiores consumidoras do mercado: são responsáveis por 70% das vendas, seja em pontos de venda físicos ou virtuais.

Se de início elas buscavam maneiras de aumentar o prazer sexual, hoje também querem apimentar as finanças. No mercado, que gera mais de 125 mil empregos e cresce 15% ao ano no Brasil, 80% das vagas, de empresárias a vendedoras, são preenchidas por mulheres, segundo a Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme). A presidente do grupo, Paula Aguiar, lembra que é atribuída a uma mulher a fundação do mercado erótico mundial – a alemã Beate Uhse, criadora da primeira sex shop do mundo, logo após a Segunda Guerra Mundial. “Podemos voltar a esse pioneirismo e ajudar as mulheres a serem felizes na busca por prazer e autoconhecimento”, diz.

A seguir, Paula e duas colegas falam de suas experiências.

Educar é preciso

Paula Aguiar é presidente da Abeme desde 2012. Começou a se envolver com o mercado por volta do ano 2000, quando o marido tinha uma escola de informática e um senhor apareceu pedindo ajuda para criar uma loja virtual. “Ele abriu uma bolsa cheia de próteses penianas. Tomei um susto, tive preconceito. Mas com o tempo comecei a acompanhar a luta dele pra vender esses produtos.” Depois de trabalhar com empresas do setor, ela fez o primeiro catálogo sensual do Brasil, que vendia produtos como um catálogo de cosméticos. Também criou um blog, um evento e um seminário de negócios da área. Escreveu 12 livros que abordam produtos, sexo e mercado e hoje é referência em consultoria na área. “Sou péssima administradora, mas grande estrategista. Compreendi o mercado.” Hoje, aos 46 anos, casada, com dois filhos e uma neta, faz pós-graduação em terapia sexual e foca suas consultorias não só na venda de produtos, mas no empoderamento das mulheres. “O conhecimento trouxe a possibilidade de a mulher vivenciar sua liberdade. Meu plano é ser multiplicadora, mostrando a importância da educação sexual e como o mercado erótico serve pra todos.”

De luxo

Morando em Nova York há 13 anos, a carioca Eliane Said, 52, tinha uma distribuidora de lingerie quando foi convidada a assumir o cargo de diretora de vendas e marketing das Américas da Lelo, empresa sueca líder no mercado sensual de luxo, responsável por fabricar peças que podem variar de R$ 4 a R$ 12 mil. Formada em administração de empresas, ex-dona de uma escola de idiomas, hoje ajuda a empresa a desenvolver pesquisas sobre o comportamento sexual dos clientes. Em uma delas notou, por exemplo, que 64% das mulheres entrevistadas diziam não conseguir atingir orgasmo. “Quanto mais madura a mulher, mais consciente do seu corpo e com vontade de explorar a sexualidade ela fica. Hoje sabemos que saúde e sexo andam juntos. Quando se tem qualidade no sexo, melhoram pele, circulação, hormônios.” Para Eliane, atuar no mercado erótico não foi uma grande mudança na vida: “Quando somos empreendedoras, qualquer transição é natural”.

Em família

Em uma viagem ao exterior no começo dos anos 2000, Alessandra Seitz percebeu a grande quantidade de

produtos eróticos, em especial cosméticos, que nunca tinha visto no Brasil. Não conseguiu trazer muitos na mala, mas fez uma encomenda ao pai, que voltaria ao país alguns dias depois. “Imagina um senhor alemão passando no raio X com uma mala cheia de velas e brinquedos eróticos”, ri. 
Dona de uma indústria de embalagens, a família abraçou a ideia dela de criar uma marca nacional de cosméticos sensuais. “No começo estranharam, mas agora pra gente é tão normal que parece que vendemos desodorante.” Líder na categoria, com oito anos no mercado, a INTT desenvolve e distribui produtos que ajudam homens e mulheres a aumentar o prazer sexual. “Não conhecia nada de sex shop, hoje acho que nossos cosméticos são melhores que os de fora. Há matérias-primas que só existem aqui.”


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