Sem legendas
Não vou estragar nenhuma surpresa. Apenas dizer que o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu e o escritor Guillermo Arriaga conseguiram em pouco mais de duas horas levantar pontos que tocam a vida de qualquer ser humano vivo em 2006. Rodado no Marrocos, Japão, Estados Unidos e México, Alejandro usou a mesma estratégia de Amores Brutos, onde as histórias se entrelaçam. E com essa globalização, nem quem nunca colocou o nariz para fora de seu bairro escapa do que vem do exterior. Ou seja, vivemos mesmo numa Babel. Além de pitadas em aspectos como solidão, egoísmo, e até mesmo criar filhos via babá, Babel toca em dois pontos sensíveis: o primeiro, coincidentemente tratado no post de segunda-feira, é o uso de armas descontrolado. E o segundo é a questão da imigração na fronteira com o México, um tópico quentíssimo para quem mora nos EUA.
A música, os atores, (incluindo o mexicano Gael García Bernal e o japonês Kôji Yakusho, que protagonizou o memorável Shall We Dance?), o ritmo, a fotografia, o tema, tudo nesse filme encanta. Até mesmo um pequeno detalhe, que talvez passe despercebido para o grande público: a relação turista guia que se estabelece em lugares remotos, como o sul de Marrocos. Ali, um guia faz a diferença numa paisagem em que não se sabe o que é norte ou o sul, perdida nos arredores do Saara. Tive a oportunidade de vivenciar isso há um ano, visitando a mesma região onde o filme foi rodado, quase na divisa com a Argélia. E lembrei-me do Mohammed, nosso guia, que fala árabe e francês (optamos, claro, pelo francês) e que fez dos nossos dias naquele país um tremendo espetáculo - chegou a nos levar em sua casa, onde sua mãe, humilde, com a cabeça coberta, cozinhou doces para nós. Deu saudade.