Saudades do Brasil pancadão

Primeiro Carnaval fora do país. E a mina enlouquece a passa a gostar do Carlinhos Brown

por Nina Lemos em

Chegou como uma porrada no peito. Um soco de um skinhead paulista. Um empurrão no peito dado por um daqueles meninos dos arrastões da Virada Cultural em São Paulo. Ou uma bala perdida no Rio cravada bem no meio do coração. 

Eu nunca tinha imaginado que era possível sentir tanta saudade. Ainda mais saudades do Brasil, que eu amo, claro, eu amo, mas anda tão difícil de viver. Eu ria dos amigos brasilieros de Berlim que falavam que tinham saudades. “Eu? Só dos amigos, para de ser louca!”. Até que chegou o Carnaval. E eu nem gosto de Carnaval, atenção. Eu sempre me fantasiei, e pulava tipo um bloco por ano com esforço (não bebo, tenho síndrome do pânico).

Mas aí começaram as fotos dos amigos no Carnaval. Só eles, só eles para ocuparem as ruas do centro com aquelas roupas. Só os meus amigos do Brasil. Sinto muito! Aí veio a Portela. Minha Portela. Eu nasci Portela e a Portela nunca mais foi campeã. Aí esse ano a Portela tem chances. O desfile da Portela foi foda! Meu Deus, olha o Zeca Pagodinho! Que foda o Carlinhos Brown pulando! Socorro, eu nunca gostei do Carlinhos Brown mas agora tô aqui achando que ele é super legal.

Depois veio a história da minha amiga, contada pelo chat. do Facebook. “Cara, o taxista se recusou a me levar até o bloco. Eu saí do taxi chorando no meio do Centro. Aí o homem da CET veio me consolar e disse: “você tem problema com motoboy?" E eu fui de motoboy, menina, e o cara era um deus de ébano do Morro do Pinto!”. Só no Brasil. Só na porra do Brasil que o polizei vê uma mulher chorando, ajuda e sugere que ela use um transporte que deve ser ilegal. Só no Brasil que o cara é do morro do Pinto! Caralho!

“Mas você está com saudades de um lugar onde não tem água, energia e os homens são machistas?”, ele pergunta. “Você para. Você para! Você para agora de insultar O MEU PAíS”. E eu só não dei uma voadora porque a conversa era pelo Facebook.

A saudade é pancadão. Bateria da Portela e o bloco Originais do Punk (que o Vitor me mostrou agora) misturando hardcore com percussão de samba.

A saudade não é bonita. Ela é uma porrada no peito. Uma porrada bem dada. E sem homem do CET para te colocar em uma moto dirigida por um motoboy do Morro do Pinto porque você está chorando.

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