São Paulo-Recife
Do Sudeste ao Nordeste, é moda que eles inspiram
Um faz figurino e cenário, outros dois trabalham com moda, uma terceira ensina respiração. Do Sudeste ao Nordeste, é moda que eles inspiram
THEODORO COCHRANE TRABALHOU COM >>>
Marília Gabriela é daquelas que comem como passarinho. É o que conta seu filho, o ator e diretor de arte Theodoro Cochrane, que duas vezes por semana atravessa a rua de casa para almoçar com a mãe e caprichar no “prato de peão”. Formado em artes cênicas pelo EAD, da USP, e em design de produtos pela Faculdade Belas Artes, além de filar uma comidinha na casa de Marília, frequentemente ele assina algum trabalho com ela. Foi assim com o figurino e o cenário da peça Aquela Mulher, o cenário de A Tempestade e o design do livro Eu Que Amo Tanto, escrito pela jornalista. Aos 30 anos, com um timbre de voz que denuncia ser filho de quem é, Theodoro tem visitado o fonoaudiólogo e pulado da cama, todos os dias, às oito da manhã para aprender balé. “Estou sofrendo horrores, correndo atrás de bailarinos de 15 anos”, conta. É que por causa do “vozeirão de locutor de rádio” o diretor de musicais Jorge Takla lhe sugeriu aulas de canto e de balé. Com essa mesma voz, Theodoro foi mestre de cerimônia da premiação do Festival FilmeFashion do ano passado, idealizado por Alexandra Farah.
ALEXANDRA FARAH, QUE COBRIU DESFILES DE >>>
A jornalista Alexandra Farah se considera a mais tecnológica das editoras de moda. “Erika Palomino é a moderna, Costanza Pascolato, a elegante, Glória Kalil, a da etiqueta”, e ela, a mais high-tech. “Tenho muitos aparelhos: iPhone, um Mac Book Air rosa igual ao da personagem do filme Confessions of a Shopaholic...” Todos esses apetrechos servem para que Alexandra poste sua coluna, Segredos de Ale Farah, no site do iG, escreva para a revista Vogue e atualize o FilmeFashion, um site que virou festival de cinema – com edição a cada dois anos. O interesse pela tela grande surgiu quando, aos 25 anos, Alexandra foi morar em Nova York, onde estudou cinema. No Brasil, durante o ano em que fez alguns editoriais de moda para a Tpm (2006), criou diversos ensaios inspirados na sétima arte. Hoje ela também apresenta dois programas pela internet, o Garden Girl – sobre personagens que, assim como ela, moram no bairro dos Jardins, em São Paulo – e o RGTV, sobre moda e eventos no site da RG Vogue. “Como no cinema, uso imagem, só que para fazer jornalismo”, explica. E foi justamente cobrindo uma edição da SPFW que ela topou com o estilista Melk Z-Da.
MELK Z-DA, QUE FOI SÓCIO DE>>>
O estilista Melk acorda às 5 horas e caminha por meia hora até seu ateliê, em Recife. “Sou tão metódico que, quase como um jumento, procuro as pegadas do dia anterior.” Lá, ele faz vestidos sob encomenda – de festa e de noiva. Formado em artes plásticas, estreou no Recife Fashion, em 2005. Em seguida foi convidado para participar do Fashion Rio. Filho de uma costureira e sobrinho de bordadeiras, o pernambucano tem detalhes artesanais no seu trabalho, mas foge do estereótipo regionalista. “As pessoas esperam uma roupa mais regional por eu ser de Recife, veem um bordado e já falam que é fuxico. Não tenho nada contra o regional, mas não faço roupa ‘para turista’.” Melk aprendeu modelagem trabalhando como desenhista em uma loja de tecidos. A cliente vinha com a ideia do vestido e ele botava no papel. “Dei uma peça da minha primeira coleção para a minha tia, pra minha irmã e minha prima. Ninguém nunca usou. Elas são simples!” Melk também não tem nada de fashion. “Meu guarda-roupa é terrível.” Há dois anos, desfez a sociedade com a amiga Januária Valença e assumiu as rédeas da marca que leva seu nome.
>>> JANUÁRIA VALENÇA
Depois de cinco anos estudando na Europa, aos 23 e de volta ao Brasil, a pernambucana Januária terminou a faculdade de administração e foi trabalhar com moda. Produziu desfiles, virou sócia de Melk e planejou abrir uma loja com Thais Mol (editora convidada desta edição da Tpm). Saiu em busca de um lugar para uma loja de pequenos achados da moda. Mudou de ideia depois de um curso de meditação com discípulos do indiano Osho. “Foi uma reviravolta. Precisava me dedicar à busca espiritual”, conta. Passou um ano morando numa comunidade no sul do país. Até que sentiu falta “de música, da festinha, do mundo. Tem coisa melhor do que uma roupa nova?”. Hoje a meditação faz parte de sua rotina, mas ela não deixa de se jogar no bloco Eu Acho É Pouco no Carnaval e de tomar uma birita de vez em quando. “Não dá pra ser uma psycho killer do esoterismo!” Mesmo assim, ela faz 50 jovens fecharem os olhos e respirarem. Januária e mais duas pessoas fazem um trabalho na penitenciária juvenil Fundac, onde botam os internos para fazer exercícios de respiração. “A última coisa que esses meninos pensam é em olhar pra si mesmo”, diz.