Roupa que serve na gente


Na Argentina o tamanho das roupas é assim de subjetivo

por Ana Manfrinatto em

“Roupa que serve na gente” é a forma como minhas amigas brasileiras e eu definimos a numeração das peças da loja argentina Complot. Explico: temos em média 1,70 m e somos grandonas. E embora a gente saiba que não somos gordas e muito menos dotadas de uma altura descomunal, nosso biotipo é bem diferente do das argentinas – que em geral são mais baixas do que nós e super magrinhas.


Além delas serem mais mignon, no geral as argentinas são muito mais preocupadas com o corpo do que as brasileiras. Quer dizer, ambas se preocupam, mas de uma forma diferente. É que aqui elas querem ser muito magras e ponto. Diferente da brasileira, que quer ser magra porém gostosa (com peitão, bundão e coxão trabalhados na academia).


Tanto é que o padrão de gostosa daqui, o das vedetes que se apresentam nos musicais e nos programas de tevê, é o da mulher esquálida com um peitão grande e siliconado. O país também está sempre entre os primeiros quando o assunto são as taxas de anonexia e bulimia.


Todas vão ao nutricionista (ou ao “nutri”, apelido carinhoso) e à academia. Para se ter uma ideia, eu já tive uma colega de trabalho que não comia nem uma folha a mais do que a receitada pela médica e que olhava a tabela nutricional do pacote de toda e qualquer bolacha que ofereciam à ela. Se não estava permitido ela dizia: “Obrigada, mas não posso porque senão a nutri briga comigo”.


Além disso há o fato da numeração das roupas não contar com nenhum padrão. É pior do que no Brasil! Há alguns anos saiu uma lei (ou projeto de) para regular os números. Até hoje nunca vi isto ser praticado nas araras. Sem falar que é super comum você entrar em lojas que vendem peças de tamanho único.


Certa vez eu estava numa loja e pedi para provar uma calça de um tamanho maior. A vendedora me disse que não tinha. Daí eu perguntei se ela não tinha porque tinha acabado ou se não tinha porque eles não faziam tamanhos maiores. A resposta foi a segunda opção. Neste dia eu estava tão, mas tão irritada que pedi para falar com o gerente. A resposta? “Nós fazemos roupas para gente magra”.


(Ou seja, ele me chamou de gorda e teve que escutar cobras e lagartos da minha pessoa)


É por essas e outras que minhas amigas brasileiras e eu compramos muito na Complot. Primeiro porque a roupa não é tão cara. Segundo porque é bacaninha. E sobretudo porque elas servem na gente.


Tudo bem que sempre somos G na Complot (que aliás diminuiu o tamanho grande de 44 para 42 nesta última coleção outono/inverno). O que importa é que serve.


O único problema, neste caso, é que todas temos as mesmas roupas. Quando as peças são muito marcantes, como vestidos, temos que avisar pelo telefone que vamos sair com tal roupa para não correr o risco de estarem todas de par de vaso.


A Complot também faz muito sucesso entre as amigas do Brasil que vem nos visitar. Para dar uma conferida nos endereços e no lookbook da coleção, acesse o site.

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