Riqueza é educação
Um lugar onde garantir boa escola para o filho é mais importante que ter um apartamento imenso
Uma das coisas mais bacanas nos Estados Unidos é o conceito da escola pública. Para você matricular o seu filho em uma, é preciso morar na zona delimitada por aquela escola. Com isso, todas as crianças moram perto e os pais participam mais da vida escolar, criando uma comunidade. E, claro, a ideia de uma criança socada em um ônibus ou carro por horas em trânsito, para frequentar uma escola longe, é descartada. Sim, escolas particulares também existem por aqui. Mas vamos falar da maioria: as públicas. Os bairros onde as escolas são as melhores tornam-se os bairros mais caros para morar. Por quê? Porque a prioridade é a educação. Os pais não pagam a escola, mas o preço da moradia é estratosférico.
Em Nova York, o bairro com a maior concentração de escolas boas é o Park Slope, no Brooklyn. Com isso, o preço do aluguel já ultrapassou todas as esferas, e a disputa por vagas em salas de aula é quase no tapa. É incrível – e lindo – ver gente que ganha bem, muito bem, se espremer (não há outro verbo) em apartamentos minúsculos, onde dois quartos e um banheiro são considerados luxo, sem elevadores (pense no carrinho do bebê), sem porteiros, muitas vezes sem máquina de lavar. Um sacrifício para que o filho possa estudar em uma das melhores escolas públicas da cidade. Aqui, dinheiro é educação.
Outro dia escutei: “Há uma grande diferença de qualidade de vida entre quem ganha US$ 5 mil e quem ganha US$ 50 mil. Mas a coisa não muda muito entre um salário de US$ 50 mil e um de US$ 300 mil”. Por mais almofadinha que um sujeito seja, existe um teto: os 50 mil já pagam seguro-saúde, uma boa escola, confortos domésticos, contas e viagens. O que ultrapassa essa quantia vira investimento, poupança ou, esperamos, filantropia. Aí é opção de cada um trabalhar que nem um camelo (e, olha, já estive no Saara, e percebi que os dromedários trabalham bem menos que alguns amigos meus) ou dar um freio e curtir o que é mais importante: família e amigos. Aí, sim, é usar o salário em porta-retratos e colocar na parede as imagens de beijos e abraços.
Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 17 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, aqui no site da Tpm, e também do site www.taniamenai.com