Rafael Infante

Deus. É assim que é chamado desde vídeo do Porta dos Fundos em que vive o Todo-poderoso

por Letícia Lima em

É assim que o ator Rafael Infante é chamado nas ruas desde que um vídeo do Porta dos Fundos com mais de 5 milhões de visualizações o mostrou vivendo uma inusitada versão do Todo-poderoso. A convite da Tpm, uma colega de elenco conta tudo o que sabe sobre ele.

Ao ser convidada para escrever este texto sobre o Rafael Infante – aliás, muito esquisito chamá-lo de Rafael; então vou dizer Rafa Infante –, eu pensei: “Oba! Que delícia!”. Já conheço o Rafa há alguns anos, desde seu começo no site Anões em chamas, quando ele gravou seu primeiro vídeo para a internet, bem antes de ser chamado de “Jim Carrey brasileiro” ou, como prefere o diretor do Porta dos Fundos, Ian SBF, o “Jack Nicholson brasileiro”.

Antes de escrever, marquei de bater um papo com o Rafa no Shopping da Gávea, no Rio, onde ele está em cartaz com a peça Rain Man (na qual ele vive o papel que foi de Tom Cruise no cinema, sob a direção de José Wilker). Pouco antes do horário combinado, recebi a mensagem de que ele se atrasaria um pouco: ele estava esperando a entrega de um armário novo para a cozinha. Achei tão fofo imaginar o Rafa escolhendo um armário com a (futura, logo, em breve) mulher para a casa nova, pensando nos detalhes da organização e ainda esperando para receber o móvel em casa!

Chegando no shopping, ele avisou que precisava comprar incensos, pra quando chegasse em casa, à noite. Eu já sabia do lado zen do Rafa, mas não esperava vê-lo comprando lembrancinhas para a amada e coisinhas cheirosas para a casa. Outro dado importante: o Rafa é muito relax. Despojado a ponto de chegar de mãos abanando, nenhuma mochila ou bolsa, nada. Tudo o que ele precisava já estava no teatro.

Crédito: Christian Gaul
Crédito: Christian Gaul
Crédito: Christian Gaul
Crédito: Christian Gaul
Crédito: Christian Gaul
Crédito: Christian Gaul
Crédito: Christian Gaul
Crédito: Christian Gaul

Barata Flamejante
Rafa Infante, 27 anos, não pensava em ser ator quando estava no colégio. Achava que teria qualquer outra profissão, só não sabia qual. E quando chegou a hora de fazer faculdade escolheu cinema. Na faculdade ele logo notou que seus interesses sempre eram levados para as coisas que diziam respeito à atuação. Ele queria sempre saber “mas e o ator nessa história, hein?”. Foi quando se deu conta: era ISSO. Ia ser ator. Mudou para a faculdade de teatro e foi chamado para um teste por um grupo de teatro de improvisação. E é aqui que eu e Ian SBF entramos na história: fomos chamados para assistir ao teste dos candidatos e opinar. E então... tchan, tchan, tchan, tchan! Vimos Rafa, ainda de cabelo grande, e sua imitação impagável de Silvio Santos.

Bom, nem precisava dizer que ele foi o escolhido. Mas vou dizer: ele foi o escolhido. E sua fama de improvisador genial logo se espalhou. “O improviso expande a consciência do ator”, ele diz. E o improviso, para ele, é questão de treino – é malhar o cérebro, que aprende as técnicas e fica mais ágil.

Logo Ian o convidou para fazer um vídeo no seu site Anões em chamas, do qual eu também fazia parte. Outros vídeos vieram, depois o Rafa participou de programas para o canal Multishow, como o Barata Flamejante, em que eu, além de atriz, também fui diretora de arte e figurinista. Ou seja, convívio intenso. E então surgiu o Porta dos Fundos, que foi onde tudo aconteceu pro Rafa. Que fique claro: ele é um ator que faz humor, e não um comediante. Faz drama e outros gêneros tão bem quanto comédia.

Cantor e compositor
A presença do Rafa nos sets traz alegria sempre. Com ele não tem tempo ruim, mesmo quando descobre que terá o corpo todo pintado mais uma vez. Explico: Ian está sempre escalando o Rafa para personagens que são muito caracterizados. No Barata Flamejante, o ator fazia o personagem Salamandra, um cara que acreditava ser um super-herói e cujo suposto superpoder era o de se camuflar no ambiente. Então, em todas as cenas ele estava pintado exatamente como o cenário. Rafa passava o dia inteiro de sunga e touca de natação, e o resto era pintura. Teve uma cena em que ele comia uma coxinha numa lanchonete, e a coxinha era pintada junto.

Ian diz que o Rafa tem um humor muito físico, corporal, que funciona muito. Até hoje, no Porta dos Fundos, esses papéis o perseguem. No vídeo Parabéns, por exemplo, o Rafa entra de palhaço. Reparem: é o único que está caracterizado e isso torna a situação mais engraçada. Quase sempre é só ele quem está pintado. Quando participamos de um evento em São Paulo, resolvemos apresentar esse esquete ao vivo. Lá foi o Rafa, de novo, ser o único palhaço coberto de tinta. Mas, como diz o Ian, “no final ele gosta”.

É um ator que faz humor, e não um comediante. Faz outros gêneros tão bem quanto comédia

E ele também se vinga. Uma brincadeira-piada que usa esporadicamente é, conversando com alguém, dar tchauzinho e cumprimentar uma pessoa, como se existisse alguém ali. Só que é sempre alguém imaginário. A (futura, logo, em breve) esposa, Tati, diz que não cai mais nessa. Eu caio todas as vezes, mas finjo que não. Outro talento dele? Criação de letras de músicas. Engraçadíssimas. A mais famosa tem conteúdo que eu não posso escrever aqui (podem me perguntar no Twitter que eu conto). Algumas acabam virando músicas de set, e todo mundo começa a cantar e a colaborar com a letra. Outras até entram pro vídeo, como o funk do Capitão Gancho, que rendeu clipe só dele. Cantor e compositor, Rafa já teve até uma banda, a Preto Tu. Ele e Tati, aliás, compõem juntos. Fofo, não?

Rola
Tatiana Novaes também é atriz, além de escritora – está escrevendo dois livros, um infantil e outro juvenil. Rafa passa horas falando dela e da relação dos dois. Contou, por exemplo, o quanto a Tati foi fundamental na criação do personagem em Rain Man. Ela sentava para ver a peça e fazia anotações sobre o trabalho dele. O Rafa mudou muito desde que a conheceu. Até tentei, mas não há outra palavra: ele amadureceu.

Eles moram num lugar afastado e sossegado (o Recreio), bem diferente do agito da zona sul, onde Rafa viveu a vida inteira. Lá ele cuida do jardim e até varre a casa quando é preciso. Os dois vão se casar em outubro, apesar de já morarem juntos e de já quererem filhos. A madrinha do casamento sou eu! O padrinho é o Ian – que o Rafa diz ser “tudo” na sua carreira. “Tudo está acontecendo por causa das oportunidades que Ian me deu.” 

O colega Marcelo Serrado o define como sagaz, imprevisível, generoso, versátil e galã

Sobre as crenças, ele se define como espiritualizado. Acredita na energia das coisas, em astrologia. Está sempre falando de coisas místicas e das sintonias do mundo. Apesar de a gente não perceber, ele diz que sempre faz um minirritual mental antes de entrar em cena. Foi esclarecedor saber disso. Por trás do menino inquieto e aparentemente desatento, sempre percebo que na hora da cena ele entra com uma força muito grande.

Sempre que temos uma cena juntos, nos preocupamos um com o outro e perguntamos o que o outro acha. Parece um detalhe bobo, mas faz uma diferença enorme. No vídeo Rola, a gente não sabia o que fazer. Lemos o roteiro e não fazíamos ideia de que tom usar. Estávamos gravando numa lanchonete no centro do Rio, e o Rafa me chamou do lado de fora e disse: “O que a gente vai fazer?”. Caímos na gargalhada, tipo “e agora? Como a gente vai fazer isso?”. Daí resolvemos que ele ia oferecer “a rola” do jeito mais natural do mundo e eu ficava com a parte mais difícil, que era ouvir aquilo, mas meio que não entendendo totalmente. A gente não sabia se ia funcionar. Mas nem preciso dizer o quanto ele arrasou, né?

O ator Marcelo Serrado, que divide o palco com ele em Rain Man, definiu o Rafa em algumas palavras: sagaz, imprevisível, generoso, dinâmico, versátil e galã. Ian SBF diz que o melhor é a tal capacidade de expandir o roteiro. “Ele cria em cima das situações e muitas vezes acaba melhorando a qualidade do texto.” E ainda cria cacos incríveis como o “errou feio, errou rude”, no vídeo Deus – um divisor de águas na carreira do ator (que até hoje faz com que as pessoas na rua o chamem de Deus). “Se fossem fazer um Batman brasileiro, o Rafa seria o Coringa sem dúvidas”, completa Ian.

Para encerrar, vou usar o que a Tati contou: quando vai a um restaurante chique aqui no Rio, Rafa gosta de pedir cocô de pombo frito. E diz isso com tanta seriedade, como se fosse uma iguaria francesa, que sempre deixa os garçons constrangidos. Sim, eu vou acabar o texto com o “cocô de pombo frito” pra isso não sair da cabeça de vocês. Mas pra isso eu preciso dar um jeito de a frase terminar com “cocô de pombo frito” de maneira natural. (Droga!) Como se já não bastasse ter dito três vezes... “cocô de pombo frito”.

Arquivado em: Tpm / Ensaio TPM