Quistões em questão
The New Yorker é sinônimo de excelência. Mas são raras as almas que conseguem lê-la semanalmente de cabo a rabo. Quando você entra no elevador com uma debaixo do braço, sempre alguém pergunta: “você lê todinha, é?” Não, não leio. Tem semana que as charges bastam. Certa vez, plantei-me às sete da manhã de um domingo (um marco inesquecível) numa fila para assitir a uma palestra dos desenhistas da revista. Sem falar na exposição montada em homenagem aos 100 anos do metrô nova-iorquino, em 2004, reunindo todas as charges relacionadas ao assunto. Incrível. Passageiros de metrô são grossos desde sempre. Uma ilustração de 1970 mostra um condutor anunciando que o trem pifou. “Olha, vamos ficar parados por um bom tempo. É bom vocês olharem para o lado e se cumprimentarem”. Sim, isso é piada. E olha que o iPod nem existia. Outra do metrô foi publicada logo após o 11 de setembro. Estava ele, Osama, de turbante, uniforme militar, bolsa a tiracolo, calmíssimo, fazendo o que todos os perdidos fazem: debruçando-se sobre os demais passageiros para estudar o mapa do metrô na parede do vagão. Imagina se alguém notou aquele homem de dois metros.
Mas talvez uma das capas mais famosas – que virou até cortina para chuveiro – seja o mapa da cidade imitando a região do Paquistão, Usbequistão, Afeganistão e todos os quistões em questão. A piada é muito local, mas os bairros de “New Yorkistan” adequaram-se à nova realidade. A vizinhança do World Trade Center, onde o preço dos aluguéis despencou, virou o “Lowrentistan”. Chelsea ficou dividida entre “Gaymenistan” e “Lesbikhs”. O Upper East Side, bairro das patricinhas-magrelas, virou o “Bulimikhs”. Os novos empreendimentos imobiliários do West Side foram batizados de “Trumpistan”. Sem falar no “Bronxistan”, ou áreas como “Khantstandit”, “Taxistan” e “Youdontunderstandistan”. Claro, em meio a essa geografia toda, fica o “Central Parkistan”, porque ninguém é de ferro. Enquanto isso, Osama circula por algum metrô da cidade, fazendo o que ele mais gosta: ser anônimo e morar em caverna.