Que diferença faz um dia

Em 17/06/2013, o Brasil se mobilizou. Agora, em 17/06/2014, voltou a se mobilizar

por Fernando Luna em

O que você fez no dia 17 de junho?

Em 17 de junho de 2013, o Brasil se mobilizou. E, agora em 17 de junho de 2014, o país voltou a se mobilizar. Antes, nas manifestações. Depois, na torcida.

Há um ano, centenas de milhares de pessoas ocupavam as ruas exigindo respeito – também conhecido como educação, saúde, transporte, moradia e segurança. Há um mês, o país apertava o passo pelas ruas para chegar logo à TV e assistir ao segundo jogo do Brasil na Copa, contra o México.

Nos dois momentos, entre apocalípticos e integrados, sobrou a sensação desconfortável de ficar no zero a zero.

Mas será que depois da jornada de 17 de junho de 2013 o 
país continua igualzinho, o mesmo de sempre, inalterado como o placar daquela tarde besta de 17 de junho de 2014, na Arena Castelão? Um empate político e econômico?

Se a única vitória concreta foram os simbólicos 20 centavos, também é possível (é preciso!) enxergar nas passeatas os sinais de uma conquista muito mais valiosa: a transformação do imaginário brasileiro. A mansidão social parece, enfim, ceder espaço a um inconformismo cidadão.

Tudo isso cabe em apenas um dia?

Muitas vezes, um dia funciona como o resumo perfeito de um longo processo. Suas 24 horas viram um ponto fixo no calendário, uma data a ser memorizada, um esforço para organizar a história.

O 14 de julho de 1789 é apenas a melhor síntese de toda a agitação que atravessou anos, e seria conhecida como Revolução Francesa. Em 28 de junho de 1914, a bala que acertou o arquiduque Francisco Ferdinando carregava a animosidade acumulada havia tempos na Europa, levando à Primeira Guerra Mundial – e, de quebra, à Segunda.

Outras vezes, um dia se basta. Não depende do que veio antes, é um ponto fora da curva. Um dia absoluto, que altera definitivamente as coisas.

É nesse dia que você conhece, pelo mais completo acaso, a pessoa com quem vai passar o resto de sua vida (embora vocês não saibam disso ainda). Ou, numa escala cósmica, é aquele belo dia há 65 milhões de anos em que o meteoro se espatifa na península de Yucatán, no México (celebrai: não fosse por isso, seria um dinossauro e não você aí lendo sofregamente esta revista).

E tem, claro, aquele dia em que aparentemente não acontece nada. É o dia a dia, cotidiano, tudo sempre igual. Igual? Em um dia comum, nascem 370 mil pessoas e morrem outras 150 mil no mundo. Se você não conhecer nenhuma delas, em vez de correr para maternidade ou cemitério, pode ficar o dia todo de bobeira em casa – e mesmo jogada no sofá vai se mover 2,5 milhões de quilômetros pelo universo, acompanhando o giro da Terra em torno do Sol.

Tem dia que muda tudo, tem dia que passa batido. Que dia é hoje?

Fernando Luna, diretor editorial

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