Quanto vale o show?

Ganhar dinheiro é a mesma coisa que prosperar?

por Fernando Luna em

Ganhar dinheiro é a mesma coisa que prosperar?

O filósofo John Armstrong defende que são duas coisas diferentes. “Prosperar implica aquilo a que verdadeiramente aspiramos: o melhor uso de nossas capacidades e habilidades; envolvimento em coisas que consideramos valerem a pena; a formação e expressão do melhor em nós”, escreve ele em Como se preocupar menos com dinheiro. “O dinheiro pode comprar os símbolos, mas não as causas da serenidade e alegria de viver.”

Certo, mais fácil falar do que viver assim. Especialmente em um mundo que se transforma rapidamente de uma “economia de mercado” para uma “sociedade de mercado”. “Um lugar em que as relações sociais são redefinidas à imagem do mercado”, nas palavras de um outro pensador mergulhado em questões pecuniárias e morais, Michael Sandel.

Ele abre seu livro O que o dinheiro não compra com exemplos de como vários aspectos da nossa vida, antes imunes à força da grana, vêm sendo sugados pelo seu reluzente campo gravitacional.

Em Santa Ana, na Califórnia, a justiça tem seu preço: por uma diária de US$ 82, um condenado pode comprar um upgrade para uma cela mais confortável. Na Índia, a maternidade vale algo em torno de US$ 6.250, preço oficial de uma barriga de aluguel. E encolher a biodiversidade do planeta, atirando num rinoceronte em extinção, sai pela bagatela de US$ 150 mil na África do Sul.

Na reportagem “Como elas multiplicam (ou não)”,, seis mulheres revelam como estão mudando a maneira de lidar com o dinheiro. Da superexecutiva à revendedora de cosméticos, elas personificam uma tendência que aparece há tempos nos gráficos de pesquisas: as mulheres avançam no mercado de trabalho e estão ganhando cada vez melhor – apesar de, nunca é demais lembrar, ainda receberem apenas 72,9% da remuneração masculina.

Suas histórias mostram, acima de tudo, como a relação das mulheres com o dinheiro pode ser, por assim dizer, mais rica – não apenas no sentido monetário, mas à medida que amplia seu propósito para muito além da infinita acumulação. Nas palavras da empreendedora social Alessandra França, criadora de um banco dedicado a conceder crédito a quem não conseguiria dinheiro em outras instituições financeiras, “dinheiro é ferramenta, não é fim”.

O fim, nesse caso, pode ser o princípio. O começo de uma transformação do mundo, em que o dinheiro espalha benefícios em vez de concentrar riqueza. Em que dinheiro vira prosperidade. 

Fernando Luna, diretor editorial

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