Quando o quente namora com o frio
Juntar estilos opostos de decoração pode ser mais difícil que aceitar defeitos do parceiro
Maxwell Gillingham-Ryan divide a humanidade em dois grupos: as pessoas quentes e as pessoas frias. Calmíssimo e carismático, Max é fundador do aclamado site Apartment therapy, autor de diversos livros e um dos meus ilustres entrevistados. Ele ajuda as pessoas a entender os espaços que ocupam, baseado na personalidade de cada um. E ninguém melhor do que um nova-iorquino para dar pitaco na casa alheia. Aqui, morar é um exercício diário de aproveitamento de espaço, autoanálise e escolhas: você quer um escritório ou uma sala de jantar? Opte por um, porque os dois você não vai ter. Muito menos morando a dois.
Geladeira de enfeite
Por pessoas quentes entende-se aquelas cuja casa é cheia de mimos. Você entra e logo sabe a história do sujeito, contada por meio de porta-retratos, poemas na parede, livros, tapetes coloridos, geladeira cheia. Casas aconchegantes, onde hóspedes sentem-se acolhidos. Por outro lado, essas pessoas tendem a acumular tranqueiras, por excesso de apego. Aí ele recomenda a tal “caixa de saída”: nela, você coloca objetos que acha que não vai mais usar. Se você não usá-los em uma semana, doe, venda, dê um rumo porta afora.
As pessoas frias, por sua vez, moram naquelas casas menos decoradas que quarto de hotel de três estrelas, com uma garrafa d’água dentro da geladeira e vários telefones de delivery do lado de fora – geralmente, pessoas que vivem para o trabalho e não sabem o que fazer com o próprio lar. São ótimas em se desfazer do desnecessário – talvez até demais. São seres contidos, que camuflam sentimentos. Pessoas que talvez precisem de uma cortina amarelo-ovo na vida. Mas que nem cortina têm.
Então o que acontece quando uma pessoa quente resolve morar junto com uma pessoa fria? Briga. Muita briga. Há luz no fim do túnel (até porque a pessoa quente guarda várias lâmpadas), mas, para isso, há que respeitar o espaço e a necessidade alheios. Talvez a pessoa fria possa ensinar a quente a jogar aquele abajur quebrado fora. Talvez a pessoa quente possa mostrar para a fria como é divertido tomar café numa caneca colorida comprada em Barcelona. Mas, por favor, se você for uma pessoa fria, na hora da briga, não jogue a tal caneca contra a parede. O mundo pode acabar. E por justa causa.
Vai lá: www.apartmenttherapy.com
*Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 17 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, aqui no site da Tpm, e também do site www.taniamenai.com