Provas de vida
Primeira mulher a ser eleita presidente do Flamengo, Patrícia Amorim ainda vai além
54. Patrícia Amorim*
Passaporte olímpico "Quando alcancei o índice para ir à Olimpíada de Seul. Lembro até hoje do momento em que tive a certeza de que eu iria, foi em 13 de maio de 1988, na piscina do Fluminense, apesar de sempre ter sido do Flamengo. Foi muito importante porque, quatro anos antes, eu tinha sido cortada da Olimpíada de Los Angeles, não existia critério, eles convocavam e desconvocavam os atletas por uma questão muitas vezes financeira. Foi muito doloroso, tive que devolver o uniforme, eu ia ser finalista nessa Olimpíada. Então, foram quatro anos esperando para me tornar uma atleta olímpica. O atleta olímpico é atleta olímpico para sempre, não existe ex-atleta olímpico, e isso determina a qualidade de competitividade que você tem."
Canudo na mão "A minha formatura na faculdade de educação física na UFRJ foi uma conquista da família inteira. Meus pais não têm curso superior e também naquela época os atletas não faziam faculdade, ninguém se preocupava. E eu me cobrava muito isso, eu era atleta, mas queria ter a formação superior. Sempre quis passar por todas as atuações possíveis do esporte: fui atleta, professora, auxiliar técnica, treinadora, coordenadora, supervisora, dirigente, vice-presidente e presidente. Não queria que faltasse nada, sempre planejei essas coisas e deu tudo certo."
Gêmeos, sejam bem-vindos "Fiquei grávida três vezes, tive três sensações muito interessantes. O primeiro filho realmente te dá uma emoção única, mas saber que estava grávida de gêmeos, sem ter gêmeos na família, foi uma coisa fora de série. Ir para uma ultrassonografia e descobrir que são dois é muito intenso. E o nascimento foi demais. Era uma Quarta-feira de Cinzas e passava o Gala Gay na TV. Eu estava rindo sem parar e a bolsa estourou às 11 da noite. Fui para o hospital e os médicos disseram: ‘Temos que correr, senão nasce um dia 28 de fevereiro e o outro dia 1º de março'. Um nasceu às 23h40 e o outro, às 23h42. E sair da maternidade com os dois? A enfermeira dizia: ‘Vamos lá ver se você sabe quem é quem'. Aí, caí na real do que era ter gêmeos. Me deu um choque, uma descarga de adrenalina. Pensei: ‘Será que vou dar conta?'."
Vida política "Ganhar a primeira eleição, em 2000 [Patrícia está em seu terceiro mandato como vereadora, pelo PSDB, no Rio de Janeiro], foi muito bacana. Eu não era ninguém. Porque, quando fui atleta, tudo dependia muito de mim, eu treinava, me dedicava, ia para uma competição sabendo como estava. Quando você se candidata você só tem o seu voto, praticamente não depende de você. Claro que seu histórico, seu trabalho e sua credibilidade contam, mas você fica pensando: ‘Será que as pessoas vão apertar o seu número, será que elas vão sair de casa para votar em você?'. Saber que estava eleita pela primeira vez foi uma sensação de aprovação sem igual."
Chegar à presidência "Em janeiro de 2009 eu era vice-presidente do Flamengo e fui dispensada, levei uma puxada de tapete. E, em dezembro, fui eleita presidente do clube. Construí uma história muito bacana, a forma como me propus a chegar foi digna, não falei mal de ninguém. Porque todo mundo te dá ordens em campanha, é uma coisa horrível, fui parar no médico, emagreci, não dormia mais. Então, ser eleita a primeira mulher presidente do Flamengo, que é o clube de maior torcida de futebol do país, é coisa de outro mundo. É muito mais do que podia sonhar. E ainda ganhei com o Flamengo sendo campeão brasileiro, o clube com o astral lá em cima."
(*) Para comemorar a Tpm#100 conversamos com 100 mulheres. Veja todas aqui