Por direitos e privilégios iguais

Encontrei um preso tetraplégico que teve o pedido de prisão domiciliar negado

por Mara Gabrilli em

Em visita ao Complexo da Papuda, encontrei um preso tetraplégico que teve o pedido de prisão domiciliar negado. Se José Genoíno aguardou no aconchego do lar a decisão sobre voltar ao presídio, por que não o outro cidadão?

Comecei este ano fazendo representações e denúncias ao Ministério Público. Começou com uma visita que fiz ao Complexo da Papuda, em Brasília. Fui até o local após ler uma reportagem da Folha de S.Paulo: um preso tetraplégico havia tido seu pedido de prisão domiciliar negado, enquanto o José Genoino aguardava no aconchego de seu lar a decisão do ministro Joaquim Barbosa sobre se deveria ou não voltar para o presídio.

Fiquei angustiada com aquela história e, na semana seguinte, fui pessoalmente verificar em que condições estava esse preso. Encontrei um estoque de pessoas vivendo em condições sub-humanas. Esse preso me contou que, ao chegar, teve de dormir no chão por cerca de 15 dias, cheio de feridas que se agravaram. Além dele, mais cadeirantes estão presos na Papuda.

O preso tetraplégico cumpre pena por tráfico de drogas. Não discuto o cumprimento da pena, mas o direito igualitário. Enquanto os mensaleiros recebem autorização pra trabalhar fora, aos cadeirantes o único trabalho oferecido é lavar quentinhas. Não tenho nada a ver com a condição de saúde do José Genoino. Mas, pelo amor de Deus, se ele está em casa, esse menino deveria estar também.

O que o governo federal fará, já que a segurança do Distrito Federal é sua responsabilidade? Fui surpreendida também com a notícia de que o governo do DF havia comprado uma Lokomat, o aparelho robótico de reabilitação que comentei na última coluna e que estou tentando expandir para o país. A notícia seria ótima, se não fosse pelo valor do negócio, que teve dispensa de licitação pelo governo: R$ 4,58 milhões. O equipamento custa em torno de 260 mil euros, o que, no Brasil, significa algo em torno de R$ 1 milhão, já instalado.

Sem saúde

É mais um caso de enriquecimento ilícito. Mas, desta vez, à custa da já miserável reabilitação do nosso país. São milhões de pessoas que ficam sem acesso à educação, ao trabalho, ao lazer, simplesmente porque não possuem saúde para sair de suas casas. E não possuem saúde porque não têm acesso à reabilitação.

Enquanto isso, o governo investiu pelo menos R$ 750 milhões em estádios e campos de futebol para a Copa. É mais investimento em estádios do que em educação. O Brasil foi classificado na 58ª posição entre 65 países no ranking da educação, e o ministro Mercadante afirmou que o país está muito bem de educação. Muito bem? Só se o governo almeja níveis para perpetuar a ignorância. Assim fica mais fácil enganar o povo.

Mara Gabrilli, 42 anos, é publicitária, psicóloga e deputada federal pelo PSDB. É tetraplégica e fundou a ONG Projeto Pró­ximo Passo (PPP). Seu e-mail: maragabrilli@maragabrilli.com.br

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