Por dentro dos muros de Berlim
Nossa editora convidada especial mostra sua descoberta da capital alemã
Na foto, parte do Muro de Berlim, recheado de grafites
Nossa editora convidada especial mostra sua descoberta da capital alemã: os apartamentos-galerias, a nova moda na arte contemporânea
Quando o Sandro, meu marido, falou: “Vamos nos mudar para Berlim”, pensei: “Nossa, será?”.Na época, não podia ir morar, então, ele foi passar seis meses e eu o encontrei depois. Fiquei um mês. Achava que ia gostar, mas minhas expectativas foram superadas, amei!
O que mais me chamou a atenção foi o movimento de arte que rola na cidade. Ela está em todos os cantos: ruas, esquinas, galerias e também em apartamentos-galerias. Não são exatamente galerias, mas espaços em prédios onde as pessoas expõem suas obras. Em alguns tem gente morando, em outros não.
No caminho de um lugar a outro, chegávamos a apartamentos com obras incríveis – expostas e à venda. Era só tocar a campainha e entrar. Depois descobri que isso acontece muito em Berlim. O mais interessante que visitei foi durante a Bienal de Berlim, em 2006. O Tacheles, como é chamado, fica no Mitte (bairro mais bacana da cidade de Berlim) e, em breve, será demolido (uma pena). Um prédio de 1907 que durante a Segunda Guerra foi praticamente destruído, mas se tornou um centro cultural nos anos 90 quando alguns artistas tomaram o espaço. Hoje ele é referência, “décadence avec élégance”. Nele, ficam alguns estúdios de fotógrafos, de música, um cinema, ateliês e algumas galerias – sem nome e a portas fechadas. As escadas são completamente grafitadas, ali mesmo já é uma galeria.
O bairro de Krausberg
Na cobertura tem um bar maravilhoso todo feito de peças recicladas, o Offen Bar. As mesinhas são CPUs de computadores antigos e, além dos grafites, chapas de memória de computador e fios aparentes decoram as paredes. E lá de cima tem uma vista bem legal da cidade. Quando estive no bar, uma projeção gigante tomou conta do prédio da frente. VJs faziam uma apresentação ao vivo, inacreditável. Sabe aquele momento que ninguém está esperando e acontece algo genial? No térreo, tem alguns espaços comerciais, além de um outro bem grande que só abre quando tem alguma exposição “off”.
Quando digo “off”me refiro justamente a esse movimento de apartamentos ou exposições que abrem em espaços que não são necessariamente uma galeria e que não há nome. Apenas tal exposição ou tais pessoas receberão o artista tal – e lá, com certeza, estarão as pessoas mais interessantes e descoladas que moram ou estão passando pela cidade.
Fachada do Tacheles, que hoje é um centro cultural
Sweet home
Como em todas as cidades bacanas do mundo é importante conhecer uma ou duas pessoas certas (como encontrá-las? Sorte...), elas sempre vão dar o caminho para o melhor da arte que está acontecendo naquele momento.
Às vezes, nesses espaços, pode acontecer de um apartamento ter obras expostas somente durante um verão. Se alguém, de repente, gostar muito do lugar e resolver morar nele, as exposições podem ir para outro apartamento. E assim é o ciclo. Esse tipo de espaço expositivo é chamado de residência quando algum artista vem de fora, fica hospedado, produz e expõe. Não tem muita regra, pode ser um artista local, um amigo que quer expor ou alguém mais famoso.
Algum tempo depois, aqui em São Paulo, surgiu a oportunidade de mudarmos de casa e pensamos: “Por que não ficar também com o antigo apartamento para ser o ateliê do Sandro?” (Sandro Akel, meu marido, é um artista incrível, além de integrar o BijaRi, um grupo paulistano bacanérrimo de artes visuais). Resolvemos, então, também montar uma “residência”, “galeria”, “espaço expositivo”... como quisermos chamar. E assim será.
Ah, e temos planos de comprar um apartamento em Berlim, claro.
O interior do prédio Tacheles
Aonde ir
Tacheles: esse é o prédio que foi praticamente destruído durante a Segunda Guerra Mundial. No início dos anos 90, foi invadido por artistas e hoje é um centro cultural. Oranienburger Str. 54-56a 10.117, www.tacheles.de.
Flick Collection: coleção de Friedrich Christian Flick, herdeiro da Mercedes e um dos maiores colecionadores de arte do mundo. Sua coleção conta com mais de 2 mil trabalhos do fim do século 20. Para quem gosta de arte contemporânea, é imperdível. Fica no museu Hamburger Bahnhof, www.hamburgerbahnhof.de.
Poll Gallery: minha galeria predileta em Berlim, www.pool-gallery.com.
Rodeo: restaurante que vira uma baladinha. É bem escondido, fica na cobertura de um prédio, parece um museu. Vale a pena ir. Augusstrasse 5ª, 10.117, Mitte.