Pop, superpop

Para começar, peço emprestada uma das agulhas venenosas de Ronaldo Esper

por Fernando Luna em

Para começar, peço emprestada uma das agulhas venenosas de Ronaldo Esper. Obrigado: como se diz por aí que Lucia­na Gimenez não é boa com palavras, vamos começar com números (pronto, pode pegar a agulha de volta).

 

E vamos logo para o único número que a TV aberta parece res­peitar, o do Ibope. Deu Ibope, o povo aplaudiu, ótimo. Não deu, tira do ar. Simples assim. O índice de audiência funciona como um indicador das preferências nacionais, um instantâneo do gosto popular.

O SuperPop de Gimenez não tem o que reclamar do Ibope. Em seu horário, a RedeTV!, aquela que já vem com exclamação, costuma ficar em terceiro lugar, atrás da Globo e da Record – da qual, vez ou outra, toma a segunda colocação por alguns minutos.

Essa é a parte boa. A ruim é que existe também um outro nú­me­ro tão revelador dos usos e costumes quanto o Ibope, ainda que bem menos popular entre as redes de televisão.

É o ranking da campanha Quem Financia a Baixaria É Contra a Cidadania, criada há sete anos pela Câmara dos Deputados. Certo, nem precisa falar. A Câmara não chega a ser a instituição mais associada à ética que existe, mas, enfim, é o que temos.

Em 2008, o SuperPop foi o terceiro pro­grama com mais “denúncias funda­men­ta­das”, no jargão da campanha. Ao todo, 76 re­clamações foram consideradas procedentes. A maior par­te delas, contra o “excesso de nudez” (qual seria a quantidade apropriada de nudez, meia náde­ga, uma genitália, três seios?) e “expo­si­ção de pessoas ao ridículo”.

Basta uma olhada no programa – e não vem dizer que você nunca assistiu – para con­cordar com tudo. O que os números não contam é que a própria Luciana Gi­me­nez teria argumentos para fazer uma esquizofrênica queixa contra si mesma.

Não sei se suas imagens de biquíni na abertura do programa podem ser classificadas como excesso de nudez (hum, talvez com base em seu 1,81 metro de altura). Mas com certeza ela se expõe ao ridículo – vo­luntária ou involutariamente – com tanta frequência quanto seus convidados.

E, melhor, ainda é capaz de rir disso. Seu site oficial tem uma seção dedicada aos “micos” a que ela se submete no ar. Não se levar a sério é uma qualidade rara em qualquer canto, mais ainda na TV – onde egos costumam inflar muito mais rapidamente que índices de audiência.

Só por isso, já valeria ler as Páginas Ver­melhas desta edição. Mas tem mais. Tem re­médio para emagrecer (ela não devia co­nhecer o Dream Week), a mãe, Vera Gi­me­nez, dinheiro, o padrasto Jece Valadão, preconceito, o marido-patrão, gravidez e, cla­ro, a versão oficial da legendária noite no canil com Mick Jagger. Pronto, falei.

Arquivado em: Tpm / Comportamento / Editorial