Piscina, Guerra e Jorge Ben

Este é o pior e maior protesto no Nepal desde 2006, os maoístas simplesmente querem tomar o poder e reescrever a constituição.

por Elka Andrello em

1/5/2010, sábado, 15:39h

Recebo o seguinte torpedo de um amigo estrangeiro como eu, que mora há 5 anos no Nepal e circula com o primeiro ministro e gente no poder: “We are in Namobuda. What about you, ready to have a war in Kathmandu? “

Namobuda é um lugar sagrado que fica há umas 2 horas de Kathmandu, a capital do Nepal. Eu e a minha filha de 3 anos moramos em Kathmandu há 1 mês num bairro conhecido como Boudha, onde fica Boudhanath, a Grande Estupa, monastérios budistas, a comunidade tibetana e os estrangeiros. A situação política no Nepal não é das melhores, antes de vir para cá me informei sobre os famosos “strikes”, se era perigoso, e a situação estava estável. Deixa eu explicar: os “strikes” são promovidos pelos maoístas, partido comunista de oposição, que vira e mexe literalmente fecha a cidade. Eles fecham todo o comércio, se alguma loja tenta abrir, eles cobram uma multa de 50 mil rúpias nepalesas (R$1.200,00), uma fortuna por aqui, e nos piores casos batem no dono da loja e quebram tudo. Minhas amigas viram isso acontecer na sexta-feira. Eles também fecham as escolas, impedem carros e taxis e circular. A Gra está sem ir na escola há 1 semana. Vira uma cidade fantasma. Na semana passada, segundo a professora da Gra, uma pré-escola tentou abrir e os maoístas bateram na diretora e em algumas crianças!!! Família e amigos, não fiquem preocupados, estamos bem e em segurança!!!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Depois desse torpedo bomba, liguei para as pessoas que eu conheço que moram no Nepal há bastante tempo e já passaram por isso antes. Lógico que a tática dos maoístas é promover o pânico para assim demonstrar poder, então o primeiro passo é separar o que é verdade do que é boato. O fato é que este é o pior e maior protesto desde 2006, os maoístas simplesmente querem tomar o poder e reescrever a constituição. O líder Prachanda declarou que “Não é um prazer promover essa paralização, é um ato compulsório pela paz e pela nova constituição”. O primeiro ministro, lógico, se recusa a deixar o cargo. Esse conflito pode piorar a crise política e comprometer o acordo de paz assinado em 2006, que pôs fim a 10 anos de guerra cívil que matou mais de 13 mil pessoas. Por enquanto as manifestações tem sido pacíficas, os caminhões que entregam água e coletam o lixo estão liberados, as ambulâncias e hospitais estão funcionando, e as lojas de comida podem abrir das 18h às 20h.

 

 

 

 

 

 

 

 

Milhares de maoístas desceram das montanhas e dos vilarejos para protestar, 150 mil segundo a polícia, bem menos do que os 600 mil estimados pelos maoístas. E eu e a Gra? Bom, pra gente, fora o desconforto de não ter escola, parece que nada disso está acontecendo. Aqui em Boudha a vida segue tranquila, com os monjes rezando sem parar, eu e a Gra tomando banho de piscina no hotel que somos sócias, e encontrinhos na casa de amigos ao som de música brasileira que os gringos adoram: Ceu e Jorge Ben. Desculpe o trocadilho infame, aqui pode estar pagando fogo, e eu bem chateada por ver a população do Nepal viver essa crise que não tem data para acabar, mas para a minha feliz surpresa, estamos “Ben” e no “Ceu”. E esperamos continuar assim!

 

 

 

 

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