Pincel e muro

Uma exposição de arte urbana e uma artista que só grafita com pincel

por Luara Calvi Anic em

Uma exposição de arte urbana e uma artista que só grafita com pincel

Unhas e botas respingadas de tinta, e casacão para segurar o frio sulista de 10 graus. É assim que Nina Moraes, 27, grafiteira gaúcha, dá entrevistas, faz pose pra foto e explica como chegou aos muros. É dia de abertura da exposição de arte urbana “Transfer”, no Instituto Santander Cultural, em Porto Alegre. Nina não é a única moça a expor, mas certamente é a figura feminina mais conhecida entre os gaúchos adeptos do spray e do rolinho. Ela, ao contrário da maioria deles, usa o pincel, ferramenta que a acompanha desde que começou a rabiscar toda a sua cidade. Cria, entre outras formas, mulheres com nariz fino e cachinhos no cabelo, quase auto-retratos. “Tem muita menina boa grafitando, mas é da natureza dos guris essa atitude mais agressiva de sair pelas ruas pintando. As gurias não se aventuram tanto.” Nina se aventura desde os 20 anos, quando saía pelas ruas de mochila nas costas, pincéis em punho e uma idéia na cabeça. Logo em seguida entrou pra faculdade de jornalismo e conheceu Lucas Ribeiro, um dos curadores da exposição no Santander Cultural e, junto com Ise Strottmann, proprietário da Galeria Adesivo, onde Nina já expôs. Ela vive de sua arte, tanto que a convidamos para deixar a Tpm mais bonita, como você pode conferir a partir da página 112 desta edição.

Traço feminino


Além de Nina, as artistas paulistanas Luciana Araújo e Silvana Mello também estão entre os mais de 60 expositores. Os gringos do “Beautiful Losers”– exposição americana itinerante de arte urbana, que tem entre seus componentes os fotógrafos Larry Clark e Terry Richardson – também mandaram trabalhos. No prédio da década de 30 onde funciona o centro cultural,paredes são pintadas até o teto por artistas brasileiros como Carlos Dias, Nunca, Trampo e Herbert Baglione. Quebrando a idéia dos museus em forma de cubo branco silencioso, uma pista de skate no hall é aberta para quem quiser deslizar as rodinhas e fazer barulho.“Vemos o skate como intervenção urbana, assim como as outras expressões que estão sendo expostas aqui”, explica Lucas.“Montar a pista no meio do museu foi como colocar um elefante numa loja de cristais”, argumenta Liliana Magalhães, superintendente do Santander Cultural. Nina ganhou um pilar branco de quase 10 metros, ao lado da pista de skate.Ao entrar no museu, olhe para a direita e reconheça de cara o traço feminino e o pilar já colorido pela guria.

Vai lá: r. Sete de Setembro, 1.028, Porto Alegre, RS. Até 28 de setembro.

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