Perca peso. Pergunte-me como
Como? Pelo menos tenta tirar a culpa do cardápio.
Seu corpo gosta de você. Muito.
Tanto que ele quer preservar você. Por “você”, entenda toda e qualquer pequena parte sua. E até mesmo partes nem tão pequenas – e isso pode incluir um ou dois pneuzinhos ao redor da barriga, o culote ou aquele ponto em que as coxas se tocam.
Por ser assim apegado, sentimental mesmo, uma das coisas que seu corpo faz melhor é conservar calorias. Só para garantir que vai haver energia suficiente para que você siga existindo e continue sendo essa pessoa adorável que você é.
Quando você começa uma dieta, francamente, seu corpo não gosta. Afinal, ele gosta de você. Por conta de mecanismos engenhosamente aperfeiçoados nos últimos milhares de anos de evolução, comer menos é fisiologicamente interpretado como risco alimentar, fome e – sim, seu corpo é um tanto dramático – possivelmente morte.
Para evitar a potencial tragédia, seu corpo luta ferozmente por cada célula de gordura. Ele é bom nisso. Muito bom. Por isso dietas milagrosas geralmente não funcionam. Ou funcionam por 5 ou 6 quilos, e voltam à estaca zero.
Como defende a historiadora inglesa Louise Foxcroft na reportagem “Não contém culpa”, “precisamos ignorar todas as dietas da moda. Elas apenas distraem a mente do que é necessário e inevitável: você tem que fazer escolhas sensatas e cumpri-las”. E não por apenas um ou dois meses. Pela vida toda.
Aí entra o outro problema, as irritantes contradições do mundo.
De um lado, um carnaval de hedonismo instantâneo, imperativo do gozo, bundalelê de prazer e felicidade permanente. E vivam o colesterol, o sódio, a gordura trans e comer até dizer chega.
De outro, um cortejo de vigilantes do peso, tabelas calóricas, informações nutricionais, descobertas médicas e restrições gastronômicas. Beba com moderação, coma com parcimônia e controle seus desejos mais urgentes – incluindo aquela caixa de Bis branco.
Entre uma coisa e outra, porções mais ou menos fartas de culpa. Perca peso. Pergunte-me como. Como? Pelo menos tenta tirar a culpa do cardápio. De consciência leve, fica mais simples se dedicar ao corpo.
Fernando Luna, diretor editorial