Preciso fazer uma confissão. Eu fico um tanto incomodada quando começa aquela inevitável conversa em mesa de bar cheia de mulheres : “Ah, como é mais fácil ser homem do que mulher…” Ok. Concordo que rotineiramente vivemos coisas que, em nenhuma cultura, seriam definidas como prazerosas. Se já não bastasse a tempestade hormonal de todo mês, seguida pela descamação e sangramento do útero, que já dificultam de sobremaneira o convívio em sociedade, pensar em depilação também não ajuda. A hora de trabalho da depiladora está mais cara que a do(a) ginecologista. E a visita se repete com muito mais frequência. Por mais que haja quem defenda a idéia, ninguém “se acostuma”com a dor. Muito menos a de um puxão súbito na genitália.
Também existe a alegria, geralmente anual, da coleta do exame preventivo e do ultrassom transvaginal. Um estranho um tanto desconfortável pede licença para inserir um objeto pontudo e coberto por uma camisinha nas parte íntimas de uma abençoada. Que fica lá, forjando uma naturalidade, enquanto o doutor movimenta o objeto como se estivesse engatando a primeira, segunda, terceira e quarta marcha, observando atentamente o monitor e fazendo anotações sobre a aparência do seu sistema reprodutor.
Ninguém falou que ser mulher era fácil. Ainda mais quando se é responsável com o cuidado da própria saúde. Mas é preciso entender que dificuldades não são o mesmo que desvantagens. As dificuldades e desafios de ser mulher são inúmeras mesmo. Há até quem diga que não se nasce mulher, torna-se mulher. O que ninguém divulga são os benefícios. E eu me sinto no dever de informar que ter dois cromossomos X e esse estrógeno todo circulando dentro de nossos vasos nos deixa menos predispostas a, pelo menos, quatro coisas terríveis quando comparadas com os moços da testosterona:
– Parkinson: Os homens têm 1,5 vezes mais chance de ter a doença degenerativa do que nós. Não se sabe o mecanismo ao certo. Mas não importa, já está comprovado.
– Câncer no fígado: Eles têm três vezes mais chance de desenvolver um hepatocarcinoma do que nós. E se, por alguma piada de mau gosto divina, uma mulher tiver a doença, ainda assim ela sobrevive em média por 5 meses a mais, em comparação aos moços.
– Melanoma: Aqui todo o gasto com cremes é justificado. Especialmente aqueles com filtro solar na composição. Quando nos expomos ao sol, estamos mais protegidas que eles. Consequentemente, nossas taxas desse tipo de câncer de pele são menores.
– Carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço: É o quinto tipo mais comum de câncer na população mundial. E nós somos responsáveis por apenas um terço do número de casos. A especulação é que o estrógeno e a progesterona exercem efeito protetor.
Acho que está na hora de arrumar pauta nova para as conversas de bar.
(meu twitter: @mperroni)
