Passarela da igualdade

Duas modelos de segmentos diferentes falam sobre desafios da profissão e do mundo da moda

por Paula Bastos em

A paulista Ana Bela Santos e a mineira Silvia Neves, lindas cada uma no seu estilo, compartilham o amor pela profissão de modelo. Com seus traços marcantes, Ana faz sucesso nas passarelas, capas de revista e campanhas de moda no exterior, enquanto Silvia alça voos cada vez mais altos exibindo suas curvas para o segmento plus size.

Em meio a agendas lotadas e muitos cliques, as modelos fizeram uma pausa para uma “entrevista cruzada” para o site da Tpm. Aqui, elas falam sobre as similaridades e as diferenças dos segmentos de moda em que atuam.

Ana Bela Santos: Quando e como você foi descoberta?
Silvia Neves: Comecei a modelar em 2009, com 35 anos, após ver uma entrevista da top model plus size Fluvia Lacerda. Vi que tinha o perfil para esse novo segmento e procurei me informar sobre esse universo: procurei boas agências, fiz cursos, um bom book e comecei a trabalhar. Sempre encaro tudo o que faço com seriedade, por isso desde a primeira vez que decidi investir na profissão, encarei como um trabalho mesmo e fui me especializando fazendo cursos do universo da moda. Muita gente acha que ser modelo é só mostrar a cara e ponto. Mas é preciso investimento em cursos de passarela, de etiqueta, maquiagem e tudo o que ajudar. Vejo um total despreparo em muitas meninas que se dizem modelos. Como disse um amigo, para ser modelo é preciso tornar-se modelo, ou seja, preparar-se; se é assim com qualquer outra profissão, por que não seria com a nossa?

Silvia Neves: Modelos plus size ainda têm uma defasagem com relação aos cachês. Por ser negra, você já sentiu alguma diferença no valor do cachê? 
Ana Bela: Hoje as diferenças de cachê se referem ao nível de trabalho da modelo. Se ela tem capas importantes, se trabalhou com fotógrafos e estilistas renomados, se fez campanhas mundiais, ela vai ter destaque e logo seu cachê será cada vez melhor. Acho que hoje não existe mais esse tipo de preconceito porque o mundo da moda está cada vez mais aberto a diferentes tipos de beleza, tem mercado para diferentes perfis.

"O mundo da moda é cíclico, mas vejo que há espaço para as diferenças", Ana Bela Santos

Ana Bela: Você já sofreu preconceito de produtores ou, até mesmo, de outras modelos?
Silvia: Posso dizer que já senti alguns olhares incomodados com minha presença. Já aconteceu de me confundirem com alguém do casting ou da produção por não acharem que eu era a modelo, mas nada disso me afetou. Acredito que quando sabemos quem somos e qual é nossa posição, ganhamos o respeito dos outros profissionais. Já fiz vários desfiles em que fui a única modelo plus size e nunca fui desrespeitada e posso dizer que hoje tenho amigas modelos magras que me admiram.

Silvia: Alguns catálogos feitos apenas com modelos convencionais hoje passaram a adotar também as plus size. Você acha que há mesmo espaço para todas ou encara isso como uma concorrência desleal, já que não é mais preciso se sacrificar com tantas dietas para fazer sucesso?
Ana Bela: O mundo da moda é cíclico, mas vejo que há espaço para as diferenças. Hoje temos modelos negras, mais velhas, andróginas, bem magras, mais volumosas, gordinhas e por aí vai. Ás vezes surgem tendências que inspiram e valorizam mais determinados tipos de beleza, então essas modelos são vistas em campanhas, em revistas e nas passarelas. Acho isso importante, pois assim valorizamos a beleza que cada uma tem e os diferentes tipos de perfil da mulher. 

(*) Paula Bastos, jornalista, é criadora do site Grande Mulheres e colabora semanalmente com a Tpm sobre moda. Seu Twitter é o @parispaula e o Facebook é o www.facebook.com/blog.gm

Crédito: Reprodução
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