Para, eu tenho medo!

Como não temer que as filhas adolescentes pensem em emagrecer para serem aceitas?

por Juliana Sampaio em

Como não temer que as filhas adolescentes ouçam cantadas nojentas ou pensem em emagrecer para serem aceitas? Nossas colaboradoras listam essas e outras coisas apavorantes

Outro dia conversava com um amigo, um cara in­te­li­gen­te e ba­ca­na, so­bre os livros que tenho lido. Por fim, ele me disse: “Tenho medo de fe­mi­nis­­ta”. E fiquei pensando em me­dos. E nas coisas de que tenho medo. É mais ou menos assim: tenho medo de na­morados que acham que podem ma­tar na­­moradas. Eu tenho medo de crimes “pas­sionais” que são mais ou me­nos re­gra. Eu tenho medo do que podem cha­mar de honra. Eu te­nho medo de pais que saem para passear de avião com suas fi­lhas. Eu tenho me­do de pa­dras­tos ta­rados, de pais, ir­mãos, tios e cunhados idem. Tenho medo da in­vi­si­bi­lidade e da impunidade cotidiana. Eu tenho medo de quem não res­peita criança. Eu tenho medo de dogmas. Eu tenho medo da Igreja católica. Te­nho medo de que uma mulher seja obrigada a levar uma gravidez a ter­mo, mesmo que ela seja fruto da maior violência que alguém pode sofrer.

 

Tenho medo de estradas e de pessoas agressivas ao volante. Eu tenho medo de armas e das coisas que homens malucos podem fazer com elas. Tenho medo de polícia e de bandido. Te­nho medo de uma justiça que só serve pa­­ra alguns. Tenho medo de que mi­nhas fi­­lhas te­nham que ou­vir as mesmas can­tadas no­­jentas que sempre ouvi de des­­co­nhe­cidos. Te­nho medo de que elas se­­jam vistas co­­mo coisas. Eu te­nho medo de que elas achem que precisam ter 40 qui­los pra se sentirem bonitas. Tenho me­do da quan­ti­da­de de silicone implantada nos peitos fe­­mininos. Tenho medo de ser con­fundi­da com uma fruta qual­quer. Te­nho medo dessa mania de plás­ti­ca, de Bo­tox e da proibição à velhice para as mu­lhe­res. E de muitas outras coisas.

Mas de feminista, meu amigo, não te­nho medo, não.

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