Para Bibi Ferreira, Adriane Galisteu é um talento nato

por Carol Sganzerla Felipe Morozini em

Foi a veterana Bibi Ferreira que apostou na apresentadora como atriz de teatro. E ela aprovou. Sabendo disso, Tpm foi averiguar e constatou que os 50 anos que separam suas vidas não fazem diferença quando entram em cena. Hoje, contracenam pela primeira vez nos palcos, numa história de traição.

Bibi não suporta atrasos. Adriane não é pontual. Bibi tem 84 anos – completa 85 dia 10 de junho – e 66 de carreira. Adriane, 34, pisou pela primeira vez no palco há três anos. Bibi é carioca. Adriane, paulistana. Abigail Izquierdo Ferreira, filha do ator Procópio Ferreira e da cantora espanhola Aída Izquierdo, cresceu nas coxias e entrou em cena com 24 dias de vida, substituindo uma boneca desaparecida. Adriane nasceu em uma família de classe baixa e, desde os 14 anos, ajudava a mãe, dona de casa, e o pai, aposentado. Estreou com a peça Deus lhe Pague, em 2004, a convite de Bibi.

Meio século as separam e hoje estão juntas no palco. Bibi é a esposa traída e, Adriane, a amante, em Às Favas com os Escrúpulos, uma comédia dirigida por Jô Soares e escrita por Juca de Oliveira, o marido-senador-corrupto. No espetáculo, elas são rivais, fora dele, admiradoras uma da outra. A duas horas da pré-estréia, criadora e criatura conversaram com a Tpm, nas coxias do recém-inaugurado Teatro Raul Cortez, em São Paulo. Merda!

Tpm. Vocês parecem tranqüilas prestes a estrear.

Bibi Ferreira. Estou apavorada. Avisei a minha nova camareira: “É a primeira vez que você me ajuda, quero lhe avisar que chego ao teatro de profundo mau humor por causa do medo”.

Adriane Galisteu. Eu não estou tranqüila nunca. Toda vez que eu chego percebo que não sei nada.

Como são os personagens? Já passaram por situação parecida?

Bibi. Ser traída? Ah sim, várias vezes [risos]. A força cômica desse papel é muito grande. Ela é uma professora, tem uma vida simples e quando descobre a traição começa a ver a vida fora de foco. É uma mulher poderosa que não sabia que o era.

Adriane. A Brenda de boba não tem nada. Tem noção das coisas mas não tem dinheiro, o dinheiro é do amante. E eu não tenho temperamento para ser amante. Sou possessiva, ariana.

A Sra. foi a primeira a apostar na Adriane. Como viu seu talento?

Bibi. Ninguém enxerga o talento. Só depois que pisa no palco. Ela trabalhava para o empresário Sérgio Dantino e ele me falou: “Você está atrás de uma moça bonita, por que não estréia a Galisteu?”. Fiz um teste e quando ela entrou em cena eu disse o que o Jô Soares falou: “Ela é uma natural”. Os americanos dizem isso de quem já nasceu com tudo. Ela é um talento nato, sabe sem ter estudado.

Como é dividir o palco com Bibi Ferreira?

Adriane. Mais que atuar, tenho tempo para vê-la. É difícil me emocionar, talvez pelo meu histórico. Mas chorei nas duas apresentações que fizemos. Sou apaixonada por ela. 

Por que voltar ao teatro de prosa depois de 50 anos só atuando em musicais?

Bibi. Voltar com esta peça tem um grande significado: ela é brasileira. Não é uma tradução, é uma coisa nossa em um momento conturbado. E o momento também é glorioso porque a peça é do Juca. Tenho a sorte de estar com ele como ator e diretor.

Como é trabalhar com Jô Soares?

Bibi. Jô é genial, o que ele conhece de comédia deixa você boquiaberta. Foram os três meses de trabalho mais importantes da minha vida. E é um teatro muito difícil.

Adriane. Ele é muito generoso, mas é super detalhista. Ele anota tudo, faz uma lista: quem falou baixo, qual cena está chocha...

Quem vocês mandariam às favas?

Adriane. Para ser bem óbvia, os corruptos.

Bibi. Eu não posso mandar ninguém às favas publicamente. Começarei por alguém da minha família, pode ser?

 

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