Palco

Erika Mader, editora convidada, fala sobre as diferentes plateias que todos têm de encarar

por Erika Mader em

Meu trabalho exige que eu esteja no palco. Quando fora dele, sou cercada por câmeras e holofotes. Essa é a minha profissão. Esse é o meu ganha-pão. Mas enganase quem pensa que somente nós, atores, é que gostamos de um palco. Acho até curioso quando ouço alguém dizer que detesta falar para a câmera ou que não entende como eu consigo me apresentar em cima de um palco. A verdade é que o mundo está rodeado de palcos. Uns com tablado de madeira, luzes apontadas e uma plateia em frente, outros disfarçados, travestidos de lugar-comum. Uns até virtuais, com mural, álbum de fotos e páginas de fãs. Um segurança de porta de festa fazendo questão de barrar a celebridade sem convite, um advogado discursando em tribunal, um médico palestrante, um professor ou até mesmo um empresário exibindo a sua incrível apresentação em Power Point para a firma são atores em plena ação. Uns bons, outros nem tanto. Mas todos querem um palco. Todos têm o seu palco, como já nos adiantou Guy Debord, identificando a nossa atual sociedade dos espetáculos. A cultura dos blogs de moda conseguiu transformar até as ruas da cidade em passarelas. Palcos.

As meninas caminham como se desfilassem na semana de alta-costura de Paris. Mas com um estilo carioca-florido-despojado de ser. Uma despretensão. Um desapego. São todas atrizes à procura de um diretor, de um repórter para registrá-las e elevá-las à condição de cool. E elas vão virar referência para outras atrizes que também querem ser cool. E ser cool é um tipo de atriz em alta no mercado de formadores de opinião. E voltamos ao assunto com o qual iniciei esta análise. Como atriz, fico aliviada em saber que o meu palco tem dimensão, não é tão abstrato assim. Sabemos quando a cortina se fecha ou as luzes se apagam. É nesse momento que nos transportamos para novos personagens. De filhas, mães, irmãs, tias, esposas, mulheres e amigas. O que venho observando ultimamente é um grande número de pessoas presas a personagens eternos. Máscaras que nunca caem. Holofotes permanentes. Precisamos conhecer o limite do nosso palco e aproveitar o tempo livre do break. Não há nada melhor do que descansar no intervalo. Respirar. Sem máscara, maquiagem ou figurino. O mais libertador momento. O do não ser.

Crédito: Acervo pessoal
Crédito: Acervo pessoal
Crédito: Acervo pessoal
Crédito: Acervo pessoal
Crédito: Acervo pessoal
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