Próspero, asséptico e high-tech?

A turma contratada para projetar nosso futuro não nos representa

por Natasha Madov Diana Assennato em

 

Existe todo um universo de pessoas especializadas em observar o que a nossa cultura produz e fazer conexões com contextos maiores, como moda, design e comportamento. Esse pessoal você já conhece, são caçadores de tendências que funcionam como tradutores do mundo em tempo real. Eles dão nome aos nossos gostos recém-adquiridos e apontam nosso olhar em direções teoricamente relevantes. Mas existem também aqueles que caçam o que ainda está por vir, esses são conhecidos por futuristas. Em linhas gerais, tentam prever o futuro (mais ou menos remoto) da humanidade com uma abordagem científica. A ideia é entender o que provavelmente permanecerá em nossas vidas e o que poderá mudar nos próximos 5, 50 ou 500 anos. Trata-se de um campo de estudo relativamente jovem, com um conjunto peculiar de estudiosos sem uma formação específica e com uma combinação de competências suficiente para provar minimamente seus chutes. Alguns vêm da academia, da indústria e outros, de empresas de tecnologia.

Diversidade já

Eis o que você precisa saber sobre eles: quem está estudando o seu futuro (e vendendo isso para empresas) são, com raras exceções, homens brancos e norte-americanos da classe média alta acima dos 50 anos. É um campo de estudo órfão de outras representações étnicas, culturais, econômicas e de gênero. Por que isso deveria incomodar você? Bom, porque para fazer parte desse clube parece ser suficiente observar para onde a tecnologia e o consumo estão caminhando com uma lente otimista. Acontece que, na maioria das vezes, a tecnologia é previsível. Os seres humanos, nem tanto. Ao não incluir vozes femininas e de outras minorias nesses estudos, ignoramos as questões com as quais eles têm de lidar, e de repente o discurso passa a pertencer àqueles que não precisam batalhar por muita coisa. O problema é que quem está financiando o seu futuro ouve e aposta nesse porvir próspero, asséptico e high-tech.

Enquanto isso, esquecemos de pensar nos contextos menos tangíveis e mais sutis, como mudanças sociais transformadoras, novas estruturas familiares e afetivas, impactos culturais de longo prazo e construção de modelos econômicos baseados em outras coisas que não o dinheiro. Será que a tecnologia pode nos ajudar a amar mais? Será que a internet pode reinventar o capitalismo? Quando um só tipo de pessoa está envolvido em fazer certas perguntas, deixamos de lado vários outros cenários onde procurar respostas. Só que, convenhamos, estamos vendo governos, economias, sistemas e recursos colapsarem um atrás do outro. Parece no mínimo pouco prudente excluir a opinião de quem precisa lutar diariamente, seja pela razão que for, nas decisões sobre os próximos passos da humanidade.

Créditos

Diana Assennato e Natasha Madov, jornalistas e geeks assumidas, são criadoras do blog Ada.vc, onde falam sobre tecnologia, internet e cultura digital com um olhar feminino

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